Sempre que o desfecho é conhecido, limito-me a registar os acontecimentos sem demonstrar grande empenho ou interesse.
É o caso do referendo que se aproxima, sobre a interrupção voluntária da gravidez.
De referendo em referendo, vamos continuar a insistir até que a lei seja aprovada. É um dado adquirido.
Por isso, é mais um tema que abordo sem paixão nem firmeza. Limito-me a registar os esforços daqueles que se engajaram numa luta que, do meu ponto de vista, é mais política do que moral ou ética. Tenta-se medir a força dos apoios do Governo através do número de votos no sim. É, no fundo, uma espécie de referendo à confiança que o “bom senso” do primeiro ministro e o seu Governo têm.
Não deixo, no entanto, de ouvir e ler com atenção os argumentos de ambas as partes.
Enquanto que os partidários do sim utilizam raciocínios baseados no respeito da condição e dignidade humana, na saúde física e mental das mulheres e na liberdade de opção, os partidários do não, pelo seu lado, recorrem a uma moral religiosa.
O primeiro grupo de argumentos é claro e apela a uma interpretação da condição humana responsável e matura.
Por outro lado, a segunda linha de raciocínio atira-nos para o universo nebuloso da moral, da definição da alma e da ética que lhe está associada.
Aceito mais facilmente a argumentação pelo sim do que a sua oponente.
E aceito porque a condição humana eu reconheço, enquanto que a condição divina é incoerente. Digo isto porque falamos conceitos subjectivos e místicos que dificilmente podem ser transcritos em leis de obediência geral. Mesmo quem é católico praticante sabe que é incorrecto impor a sua visão do mundo, quanto mais não seja pela multiplicidade de abordagens que o divino tem.
Por outro lado, ou aceitamos o conceito da centelha divina, peça central da posição Gnóstica, e compreendemos a existência do divino nos fetos ou aceitamos a posição Católica de que os nado mortos vão para o limbo (entretanto abolido) sem possibilidade de se aproximarem de Deus. Ou seja, por outras palavras, se os bebés não baptizados são afastados do divino, sem possibilidade de a ele regressarem (ao contrário dos que se encontram no purgatório) é porque não são parte desse mesmo divino. Assim sendo, que havemos de dizer dos fetos que, numa escala evolutiva física e moral, estão num estádio muito inferior?
Se este meu raciocínio é passível de critica e reanálise (claro que é!), deve-se ao facto de ele ser da mesma natureza dos argumentos que advogam o não; moral e religioso.
Pelo contrário, o respeito pela condição humana e pela multiplicidade de escolhas é um argumento irrefutável.
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