sexta-feira, abril 14, 2006

O Código - 3 - O Caminho

Com a figura à minha frente, horas passadas de concentração intensa, de conclusões tinha nada. Nem um vislumbre para além da ténue cortina da fantasia. Desesperado desfazia na facilidade do código Da Vinci: Quem não vê o M, a criatura feminina ou a adaga. Quais evangelhos gnósticos qual segredo da Atlântida? Isto sim, era um desafio digno das mentes mais brilhantes. Senti-me tramado.

Sai rápido da “foot massage” e, ligeiro como um lince, percorri as ruas iluminadas e cosmopolitas de Kuala Lumpur. Passei pelo centro comercial do povo e, no meio dos Rolex falsos e das Vuitton plastificadas senti o silêncio das multidões, o burburinho do ruído que, quando muito intenso, acaba por se desvanecer. Ao longe, num inglês quase correcto, percebi o diálogo:

- Esse relógio não funciona. Quem to vendeu que o acerte!

Abaixei-me para evitar mais danos na arcada supraciliar direita, a que me é menos favorável, e corri para o hotel. Sentei-me no bar, abri a imagem, pedi uma bebida forte e concentrei-me. No meu cérebro “pingpongueava” a frase: Quem to vendeu que o acerte! A frase só podia significar que a minha fonte de inspiração tinha de estar na origem. Tal Xaman disléxico, fechei os olhos e, com a mente em Carlos Castaneda, evoquei o meu guia: o Homem do Pico. A origem!

Exultante e confiante, saboreei o momento, sabendo antecipadamente do sucesso da minha diligência. O Homem do Pico não resiste a uma cabala, um enigma e uma possibilidade de meter o nariz em curral alheio. Estava garantido!

Aproveitei o breve momento para repensar a imagem e, fora do contexto, acabei vislumbrando a festa de aniversário de Hugh Heffner, mais erótica que herética. Contrariado fui acordado pela expressão familiar:

- Ó Home, acorda!

Lá estava, à minha esquerda, com as suas pequenas albarcas e chapéu de feltro (à moda do monte), olhar inquisidor e respiração segura, o meu guia espiritual:

O Homem do Pico!

(continua…)

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