quarta-feira, abril 19, 2006

O Código - 4 - A Primeira Revelação

A sala estava escura e ouvia-se uma cantilena oriental repetitiva. Junto ao Disc Jockey um grupo de japoneses pedia para ligarem o Karaoke e, como se quisessem provar a sua qualidade, entoavam, em coro, velhos sucessos musicais. Um, mais pequeno do que os restantes mas de idade mais avançada, dobrava os joelhos e abanava os braços recriando uma coreografia da Madonna.
Senti-me em casa.
Parecia o Beco, ao fim de semana. Igualmente deprimente!

- Então que me queres, Home?

O hálito a aguardente de figo e linguiça despertou-me do torpor.

- Ajuda...

Atirei sem cerimónia, tendo a plena consciência de que falava sozinho.

- É por causa dos sinais. Que achas disto?

Atirei-lhe a fotografia sem me dar ao trabalho de acrescentar qualquer comentário.
Como resposta recebi um riso escarninho que me irritou.

- De que te ris?

- De ti e da tua mania dos enigmas. Ainda não percebeste que a leitura dos sinais não depende do objecto mas sim da pergunta. Esta fotografia dá respostas a várias questões e não apenas a uma.

- Como assim?

Vou-te dar um exemplo: Estás curioso com os resultados das eleições para a Santa Casa?

- Nem por isso, mas….está bem. Diz lá o que vês.

- Encontraste isto num templo, num lugar sagrado ou seja…Santa casa. A figura tem mamas que representam cargos apetecíveis…eleições! Percebeste?

Fiquei furioso com a linearidade da interpretação. Não me ocorreu mais nada para perguntar, de tal maneira estava impressionado com a minha incapacidade, senão o seguinte:

- Pois sim e já agora diz-me qual foi o resultado?

- O que sentiste quando viste esta figura? O que foi que mais te marcou?

- Para dizer a verdade, foi o cheiro nauseabundo.

- A merda?

E o estupor ria-se perdidamente agarrado à sua barriga seca de tanto engolir ao longo da vida. Não me controlei e desatei também a rir, agora acompanhado de um duo de japoneses que cantavam aquilo que parecia uma espécie de Rap mas que era, afinal, uma adaptação em coreano da célebre Mariazinha do Quim Barreiros. Ouvi, ainda, o meu guru a dizer entre dentes:

- As eleições da Santa Casa deram merda!

(Há-de continuar….se calhar)

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