sexta-feira, abril 28, 2006

Questão de tempo (falta de)

Há quem diga que a proposta de criação de uma empresa Municipal sempre esteve aprovada pela Assembleia Municipal e que só não aconteceu antes porque era necessário dar um “ar sério à coisa”. Em Portugal, como todos sabemos, o que é sério é demorado.

Rapidinhas, no aparelho burocrático, estão “out”.

Pelo que li no jornal (entrevista ao Presidente da Câmara), a demora deveu-se à não distribuição da respectiva documentação por parte do Presidente da Assembleia.

É claro que não houve negligência nem displicência no tratamento do “dossier”. O que acontece é que mandar tirar fotocópias e fazer uma distribuição das ”pastinhas” é um trabalho de elevada responsabilidade e que implica uma dedicação quase exclusiva. Como sabemos o sr. Presidente da Assembleia debate-se com falta de tempo.

Quem não acredita que imagine o drama dos deputados que deram umas “faltitas” injustificadas e trocaram os “cartõezitos” e que agora, injustamente, têm que inventar motivos credíveis para se justificar.

Demora e é esgotante!

Se acham difícil, agora imaginem acumular a Assembleia Municipal com a Regional e, pelo meio, a direcção desportiva. Qualquer um, se imbuído de justiça e admiração diria:

UAU!

Ainda por cima, por princípio de estado, impossibilitado de cumprir as suas tarefas com rapidez. Em nome da credibilidade e da seriedade, cada assunto demora dez vezes mais tempo do que o necessário. É uma machadada impiedosa no carácter dos cumpridores e um banho de água gelada (o frio intenso faz encolher) no calendário dos nossos responsáveis pela “coisa pública”.

Enfim, acontece aqui e também noutros sítios do Mundo. Neste aspecto não estamos orgulhosamente sós. No Cambodja também testemunhei esse fenómeno de falta de tempo.


quarta-feira, abril 26, 2006

Empresa Municipal

Li, no jornal “Ilha Maior”, uma entrevista ao presidente da Câmara da Madalena. Aí afirmou, sem qualquer ambiguidade, que a criação de uma empresa municipal é a única forma de cumprir o seu manifesto eleitoral. Por oposição lógica, afirma que a presidência da Câmara não lhe confere, por si só, a capacidade para realizar a obra que prometeu.

Como interpretar estas afirmações?

Em primeiro lugar, devemos estranhar a afirmação.

Como é que uma autarquia com uns quantos anos de existência (desde 1723) tem conseguido funcionar sem a existência da tal empresa?
Será que esta é a explicação para que tão pouco se tenha feito na Madalena, nos últimos mandatos?
O presidente da Câmara candidatou-se ao cargo que ocupa ou a Gestor de empresas?

Em segundo lugar, há que ser pragmático e tentar encontrar uma solução para este problema que pode paralisar o nosso concelho.

E eu tenho uma sugestão.

Sabendo que a obra prevista é maioritariamente na área do desporto (subsidiar o Madalena, construir o gimnodesportivo, o campo sintético de São Mateus, etc.), porque não criar uma SAD no FCM que fique com a responsabilidade de gerir a autarquia? garantíamos uma maior qualidade desportiva, podíamos encerrar a Câmara Municipal e, como bónus, ficávamos livres de alguns “gestores” de segunda.

terça-feira, abril 25, 2006

25 de Abril

È costume celebrar o 25 de Abril relembrando o advento da democracia e da liberdade. É, sem dúvida, uma forma de analisar os acontecimentos: enaltecendo as suas consequências. Desta forma sentimo-nos todos parte do grande evento e, na hora da grande distribuição de cumprimentos e saudações, sentimos que uma pequena parte da honraria nos pertence.

Como já disse, é uma forma de ver os fenómenos e de analisar a história. É inegável a importância do 25 de Abril. É fundamental esse momento de ruptura na continuidade politica e social para a criação de uma sociedade mais desenvolvida e justa.

Estamos de acordo (a maioria pelo menos).

No entanto, para mim o 25 de Abril é um pouco mais do que isso (ou menos, depende da perspectiva). É, sobretudo, a capacidade de um grupo de pessoas decidir que pode e deve acabar com o que está mal. Tiveram a inteligência, a capacidade, o armamento e a coragem de dizer:

- Basta!

O 25 de Abril não foi mais do que isto! A tomada de atitude perante o que consideravam errado. A maior importância, no entanto, não é dada a essa coragem de passar à acção mas sim às consequências dessa acção.

Para mim, a vitória da acção sobre o imobilismo, é a grande lição que deve ser retirada do golpe de estado ocorrido em 1974.

Em síntese, deveríamos ter aprendido que através da acção podemos mudar a situação. Poderíamos ter aprendido, também, que alterar a situação não é negativo e que, pelo contrário, é um factor de evolução em direcção ao futuro.

Se tivéssemos conseguido interiorizar estes ensinamentos, de certeza que estaríamos bem melhor. No entanto, em vez de alterar o que está mal na saúde, na educação, na função pública, na política e em tantos outros sectores da nossa sociedade (a nível macro e micro), ficamo-nos pela saudação aqueles que um dia (já quase mítico, devido à distância temporal) tiveram a coragem de agir.

Na nossa preguiça e falta de coragem honramos os heróis através de discursos.

Quanto mais valia uma acção revolucionária em cada ano de comemoração!

sábado, abril 22, 2006

Glamour

Soube, quando cheguei do Cambodja, que a tomada de posse da Câmara tinha sido cheia de Glamour e que o executivo esteve representado ao mais alto nível.

O ar de profissionalismo da "equipa" deixou os habitantes locais cheios de confiança. Registe-se, ainda, o toque de modernidade na opção de criar um corpo alargado de assessoras.

Por trás de um grande "home"...


quarta-feira, abril 19, 2006

O Código - 4 - A Primeira Revelação

A sala estava escura e ouvia-se uma cantilena oriental repetitiva. Junto ao Disc Jockey um grupo de japoneses pedia para ligarem o Karaoke e, como se quisessem provar a sua qualidade, entoavam, em coro, velhos sucessos musicais. Um, mais pequeno do que os restantes mas de idade mais avançada, dobrava os joelhos e abanava os braços recriando uma coreografia da Madonna.
Senti-me em casa.
Parecia o Beco, ao fim de semana. Igualmente deprimente!

- Então que me queres, Home?

O hálito a aguardente de figo e linguiça despertou-me do torpor.

- Ajuda...

Atirei sem cerimónia, tendo a plena consciência de que falava sozinho.

- É por causa dos sinais. Que achas disto?

Atirei-lhe a fotografia sem me dar ao trabalho de acrescentar qualquer comentário.
Como resposta recebi um riso escarninho que me irritou.

- De que te ris?

- De ti e da tua mania dos enigmas. Ainda não percebeste que a leitura dos sinais não depende do objecto mas sim da pergunta. Esta fotografia dá respostas a várias questões e não apenas a uma.

- Como assim?

Vou-te dar um exemplo: Estás curioso com os resultados das eleições para a Santa Casa?

- Nem por isso, mas….está bem. Diz lá o que vês.

- Encontraste isto num templo, num lugar sagrado ou seja…Santa casa. A figura tem mamas que representam cargos apetecíveis…eleições! Percebeste?

Fiquei furioso com a linearidade da interpretação. Não me ocorreu mais nada para perguntar, de tal maneira estava impressionado com a minha incapacidade, senão o seguinte:

- Pois sim e já agora diz-me qual foi o resultado?

- O que sentiste quando viste esta figura? O que foi que mais te marcou?

- Para dizer a verdade, foi o cheiro nauseabundo.

- A merda?

E o estupor ria-se perdidamente agarrado à sua barriga seca de tanto engolir ao longo da vida. Não me controlei e desatei também a rir, agora acompanhado de um duo de japoneses que cantavam aquilo que parecia uma espécie de Rap mas que era, afinal, uma adaptação em coreano da célebre Mariazinha do Quim Barreiros. Ouvi, ainda, o meu guru a dizer entre dentes:

- As eleições da Santa Casa deram merda!

(Há-de continuar….se calhar)

sexta-feira, abril 14, 2006

O Código - 3 - O Caminho

Com a figura à minha frente, horas passadas de concentração intensa, de conclusões tinha nada. Nem um vislumbre para além da ténue cortina da fantasia. Desesperado desfazia na facilidade do código Da Vinci: Quem não vê o M, a criatura feminina ou a adaga. Quais evangelhos gnósticos qual segredo da Atlântida? Isto sim, era um desafio digno das mentes mais brilhantes. Senti-me tramado.

Sai rápido da “foot massage” e, ligeiro como um lince, percorri as ruas iluminadas e cosmopolitas de Kuala Lumpur. Passei pelo centro comercial do povo e, no meio dos Rolex falsos e das Vuitton plastificadas senti o silêncio das multidões, o burburinho do ruído que, quando muito intenso, acaba por se desvanecer. Ao longe, num inglês quase correcto, percebi o diálogo:

- Esse relógio não funciona. Quem to vendeu que o acerte!

Abaixei-me para evitar mais danos na arcada supraciliar direita, a que me é menos favorável, e corri para o hotel. Sentei-me no bar, abri a imagem, pedi uma bebida forte e concentrei-me. No meu cérebro “pingpongueava” a frase: Quem to vendeu que o acerte! A frase só podia significar que a minha fonte de inspiração tinha de estar na origem. Tal Xaman disléxico, fechei os olhos e, com a mente em Carlos Castaneda, evoquei o meu guia: o Homem do Pico. A origem!

Exultante e confiante, saboreei o momento, sabendo antecipadamente do sucesso da minha diligência. O Homem do Pico não resiste a uma cabala, um enigma e uma possibilidade de meter o nariz em curral alheio. Estava garantido!

Aproveitei o breve momento para repensar a imagem e, fora do contexto, acabei vislumbrando a festa de aniversário de Hugh Heffner, mais erótica que herética. Contrariado fui acordado pela expressão familiar:

- Ó Home, acorda!

Lá estava, à minha esquerda, com as suas pequenas albarcas e chapéu de feltro (à moda do monte), olhar inquisidor e respiração segura, o meu guia espiritual:

O Homem do Pico!

(continua…)

O Código - 2 .- A visão



Foi esta a imagem que, do esqueleto da terra saltou para diante dos meus estupefactos olhos.

O Código - 1 - O Sinal

A verdade entra-nos pelos olhos quando menos esperamos.

Saí por uns tempos em busca de novas perspectivas e realidades que, de tão estranhas, quase nos deixam indiferentes. Procurava, no fundo o sossego que o “short” e o “panamá” nos trazem quando, com ar embasbacado vamos dizendo (por um misto de sinceridade e simpatia):

-Beautiful, nice e thank you!

E assim estava eu nessa ladainha de turista deslumbrado, com o cérebro meio fechado às agruras da rotina, subindo os trezentos e setenta e tal degraus das Batu Caves, nos arredores de Kuala Lumpur, sonhando com o ritual estranho do Thaipusan, que tinha acontecido uns dias antes, quase vendo os corpos rasgados dos penitentes que cravejados de silícios arrastaram as suas figuras da devoção. Dava, ainda, para cheirar o calvário no meio dos restos de sangue e urina que manchavam o chão do imenso útero que são as cavernas santas.

Aqui a natureza pariu um exército de deuses.

Absorto e incomodado, porque isto de ser europeu tem os seus custos, pensava como seria irónico se, no meio daquela aparente anarquia de devoção e êxtase, conseguisse, tal asceta distraído ou sadhu pedrado, ter um vislumbre da realidade por trás da máscara. Como seria deslumbrante se a verdade me batesse de frente no momento em que me tentava esquivar das suas amarras.

Dito e feito!

Como um murro directo na arcada supraciliar direita, exactamente do lado onde as minhas dioptrias são mais elevadas, esbarrei com a imagem. Não foi acaso, não pode ter sido acaso! Estava Dan Brown e demonstrar que o plágio não era o seu combustível criativo e estava a decorrer a contagem dos votos autárquicos na Madalena do Pico. Sou racional e sei, com toda a clareza rural que tenho inspirado, que mesmo que o caminho seja sinuoso, a verdade acaba por nos cegar de tão próxima estar dos nossos sentidos. Assim, aquele aparente acaso não podia ser outra coisa senão um ensinamento, uma mensagem encriptada que do âmago da gruta se me revelava com o pudor de uma entidade etérea.

Feliz e ofegante (ainda não frequentava o health club da santa casa), peguei na máquina fotográfica e agarrei a mensagem para, mais tarde, no sossego do hotel, me dedicar à difícil tarefa de desvendar o código.


(continua…)

quinta-feira, abril 13, 2006

Vícios



Lá vai o tempo em que escrever provocava calos nos dedos que fortemente agarravam a esferográfica. Podíamos analisar a paixão dos homens pela calosidade dos dedos. Mãos delicadas significavam boa vida, bom feitio e, sobretudo, pouca paixão pela ideia escrita. Pelo contrário, o dedo grande com o seu calo lateral, sempre significou a força das ideias transmitidas ao papel com a fúria de quem acredita no que pensa.
Hoje é diferente.
O teclado evita o calo!
A paixão da escrita está nas unhas.
Grande vício implica unha curta. Assim “empeça” menos nos quadradinhos pretos (ou brancos) do teclado.
No que me diz respeito, as minhas unhas estavam a crescer.
Mas….
Não resisto a um bom vício. Contrariando a primavera, em que tudo se expande, sinto as unhas contraírem, diminuindo de tamanho, como que sabendo que a natureza também se combate. O apelo místico tonifica o cérebro e faz fluir as ideias e as palavras. Faz, sobretudo, avolumar a trama e intensificar a teia.
O viciado avança mesmo quando adivinha a auto destruição. Segue o seu caminho com a certeza de que o porto seguro está na tormenta de que todos fogem. Sabe que a verdade inebria tanto como o mais sintetizado absinto.
Saúde, bons vícios e….Vivam as unhas curtas!