segunda-feira, julho 10, 2006

Ontem doeu-me o peito

Definhasse-me o corpo colado à alma cansada. Tenho sensações que desconhecia e dores que nunca tive. Definhamos os dois a um ritmo descontrolado que não vemos.

Vacilo!

Entre os apagares possíveis escolho o meu.
O fechar do sol no esplendor do mar, azul como o verão dos anos que se repetem!
Azul como este que me diverte!
Quente como os sentimentos que desperta!

Dói-me!

Dói-me a vida que não vejo e cansa-me o cansaço que adivinho. Respiro o ar que não sinto e, mais uma vez, vacilo. Vacilo, cambaleio, desespero e, sem folgo, vacilo de novo.

Apertasse-me o peito em dores que não tenho.

Sinto!

Tenho na mão o frágil sentimento. A saudade, a perda e, acima de tudo, a lágrima cansada que escorre solta do fundo da minha alma. Sou o ser deserto que decide.

Dói-me mais, muito mais!

Dói-me a decisão que não tomei e que sei inevitável. Dói-me a vida que escorre na ponta dos meus dedos e que, afinal, também é a minha.

A morte, essa, pouco me assusta! Com ela lido desde que lido!

E, como sempre, consciente dos momentos e do poder de os controlar, afasto o medo que se me aloja no corpo.

Não na alma!

Nunca na alma!

Mas dói-me. Dói-me muito!

Dói-me a dúvida da decisão e a certeza do fim. Dói-me no peito o fim que não é meu. Arde-me na garganta o olhar inocente de quem espera a minha decisão.

Ó como dói a certeza da incerteza. Como arde a impossibilidade de mudar o tempo e de voltar atrás na decisão.

E, na crua luz, apenas vejo o olhar assustado de quem depende do meu cansaço.

Trémulo, fraco, agonizante, olhas-me com o perdão que não me consigo dar.

Sinto-te como me sentes:

Perto, apertado, uno!

Sinto-te como me sinto… morto!

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