Nunca pensei concordar com tal afirmação mas, vendo bem, até que há um fundo de verdade. Refiro-me à expressão utilizada na reunião da Assembleia da Câmara segundo a qual: “temos excesso de cultura!”.
Assim mesmo, sem papas na língua nem tentativas de minimizar o impacto. É claro que sem contexto a frase é absurda mas, se soubermos que foi proferida após a listagem infinita de donativos, empréstimos e apoios, passamos a perceber o significado.
Não faz muito sentido que uma Câmara que diz que não tem verbas para “mandar cantar um cego” e que até voltou a ameaçar com o encerramento das festas do Concelho, distribua o que tem sem obedecer a um critério rigoroso para além do dos 40 amigos do Ali Baba:
“Já que aquele levou o outro também tem de levar”!
Mera sobrevivência!
Voltando ao tema, temos de facto, excesso de cultura de reprodução. Muita etnografia e pouca criatividade.
Falta-nos cultura de produção.
Sendo polémica e quase desesperada a afirmação, porque demonstra uma frustração pelo desgaste do erário público sem que haja retorno evidente, pode ser objecto de reflexão e ponto de partida para uma política séria nessa área.
Qualquer modelo, mesmo que experimental, é melhor do que a sua ausência.
Um bom ponto de partida seria, também, o entendimento entre a política local e a regional. Poderia ser proposto, por exemplo, que fosse criado um fundo de apoio às colectividades, gerido pelo Governo Regional através de delegados nas Ilhas, que se norteasse pelos princípios das boas práticas.
Não sei se estão a ver? Assim uma coisa do mesmo género do desporto!
Poderia, por exemplo, criar-se um Museu do Vinho, na Ilha do Pico. Até poderia ser nas instalações onde costumam fazer umas festarolas e onde os “baladeiros” locais, quando lhes apetece mostrar o seu virtuosismo, fazem uns “get together” para umas cantorias e uns copos. O sítio até que é bom porque tem para lá umas tralhas que têm a ver com o vinho e com a vinha.
Enfim, e nada tendo com a polémica do aborto, mais produção e menos reprodução, seria um bom mote!
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