É muito confortável acabar uma etapa da vida e ter uma passadeira vermelha a fazer a ligação com a fase seguinte. Sem dúvida que é um privilégio.
Acabar os estudos, sejam eles médios ou superiores, e apresentar-se lavadinho para o emprego que o aguarda é o sonho de muita gente.
Cada um sonha o que pode!
Na nossa terra, através do pai, do padrinho ou do amigo da tia, é prática comum a criação de “cargos” mais ou menos privilegiados no sector público, para integrar os filhos pródigos. Esta prática vai tão longe que chega a incluir os familiares e amigos de outros jovens profissionais do desporto que prestam “comissão de serviço” nos nossos clubes. Estes chegam mesmo a ultrapassar alguns locais cujos pais, padrinhos e amigos da tia estão fora do circuito da decisão.
Enfim, este seria outro assunto!
Estas práticas, apesar de serem confortáveis para os jovens, têm um efeito perverso e negativo na dinâmica da terra. Ao encaminhar directamente para a função pública a maioria da nossa juventude, estamos a criar fortes entraves ao crescimento e desenvolvimento da Ilha. Por um lado porque “engordamos” uma função pública já “obesa” e com pouca dinâmica profissional, perpetuando a noção de “emprego” em que a segurança monetária se sobrepõe à importância da realização profissional. Esta dinâmica cria, também, laços de dependência impeditivos do exercício da crítica e, consequentemente, do desenvolvimento de novas ideias e práticas, perpetuando a mediocridade instituída.
Por outro lado, estamos a retirar “massa crítica” ao sector privado e a impedir a integração criativa e inovadora dos jovens num sistema que deveria ser continuamente enriquecido com as novas gerações.
Desta forma, mantemos um sector privado ultrapassado e sem capacidade de sobrevivência a longo prazo.
Se adicionarmos à equação o facto de estes jovens, devido à estabilidade financeira oferecida, mergulharem, de imediato, na “escravatura” bancária e empenharem o seu salário pelos próximos 30 ou 40 anos, a troco de uma casa “agigantada” e um ou dois carros de “boa marca”, verificamos que o resultado é catastrófico para o sector privado, por vários motivos:
Para além da sua não renovação e do não aparecimento de novas áreas de investimento (salvam-se raras e aplaudidas excepções, claro!), ficamos com uma classe consumidora que dança na fronteira da “banca rota”.
Do ponto de vista do poder instituído e do sector associativo, esta situação é deveras funcional porque permite a perpetuação do regime de conveniências instalado.
Do ponto de vista social, é um desastre!
Na prática, ficamos com uma Ilha cinzenta, com pouca oferta e com uma procura tímida. Ficamos, também, com uma classe dirigente cada vez mais arrogante. Do tipo:
- Não sabes quem eu sou?
- Sabes com quem te estás a meter?
Se não alterarmos a mentalidade nunca mais saímos do ridículo.
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