quinta-feira, junho 29, 2006

Vida cara!

O grau de desenvolvimento e de bem estar de uma população mede-se através de um conjunto de variáveis interdependentes. Há, no entanto, formas directas de avaliar o seu bem estar. Uma dessas formas, bastante fiável, é a análise da localização dos indivíduos na pirâmide de Maslow.

A análise é simples; quanto mais junto à base estiver o pessoal, menor é o seu bem estar e a sua satisfação.

Sabendo que na base da pirâmide estão as preocupações ligadas com as necessidades básicas e, seguidamente, num segundo degrau, com a segurança, sempre que encontrarmos pessoas que sejam incapazes de projectar o raciocínio para além dessas fronteiras, estamos mal!

No caso da nossa Ilha, alguns indicadores podem ser analisados, nomeadamente no que diz respeito à realização de festas populares.

O panorama é desolador!

Poucos falam da qualidade da organização, da pimbalhice adjacente ou, até, das tradições que representam.

Pelo contrário, a maioria dos comentários é sobre “os comes” e o seu preço.

- Este ano foi a pagar!
Diz um ainda a salivar de olhar para o distante atum.
- Este ano não foi de borla!
Acrescenta outro com os olhos esbugalhados presos nos fartos pratos daqueles, poucos, que desfrutaram das iguarias.
- É por isso que os outros não vieram!
Afirmam em coro, tentando transmitir para os “outros” a fome que lhes corrói o raciocínio.

Pois é, estamos mal! Nem o roncar dos carros que deram a musica para o folclore bailar, nem a entrada estonteante da bela interprete de perna fina e ar decidido, nem o grito de abertura (“Viva areia branca”), nem a letra lírica (“bateste…bateste…no meu traseiro”) nem as danças étnicas da Madeira e Cabo Verde que, brotaram espontâneas ao som do pop portuguesa de Almada (ou seria Damaia?) fizeram os nossos filhos da terra pensar noutra coisa.

- Se calhar não vieram porque era caro!

Ouvia-se em surdina e com saudade.

quarta-feira, junho 28, 2006

Festa

A primeira festa de Verão, verdadeiramente digna desse nome, realiza-se hoje, no Pocinho.

Há sardinhada, moelas, asinhas de frango e boa disposição a rodos.

Faltar é estar Out!

sexta-feira, junho 23, 2006

Este ano...

Este ano o panorama é diferente. A Câmara tomou conta da festa, temos rally, cantoras de mini-saia, cassete marada e plástico quanto baste.

O caldo de peixe virou festival de atum, o voluntariado profissionalizou-se e os pescadores dormem mais umas horitas.

É o que os políticos chamariam de paradigma da modernidade.

Da tradição, sobra apenas o foguetório e o apetite dos comensais.

É pena!

O ano passado...

O ano passado, por esta altura, escrevi isto:

O sol espreita frio, o mar amansa e o Pico mostra-se na sua grandeza insolente. Sentimos uma pequena mudança no tempo e corremos para os calções, chinelos e protectores solares.

É o Verão? Quem dera!

A água Atlântica ainda não convida à comunhão mas os homens vão fazendo os preparativos. Começam as festas que animam toda a Ilha durante os próximos meses.

Uma das primeiras é aquela que, do ponto de vista social e cultural, tem mais significado de todas. Não se rendeu ao plástico e à cassete marada e mantém duas características únicas:

É uma festa comunitária e faz uma procissão no mar.

É comunitária porque, ao som do foguete, lançado a horas que cortam a possibilidade de descanso, os voluntários correm para o mar e aí se perdem horas a fio para extrair das águas o peixe que, transformado em caldo, será consumido em conjunto. Todas as tarefas são distribuidas pelos habitantes após meses de preparação e deliberação. Trata-se de uma comunidade viva, que coopera e realiza uma celebração da sua existência.

Este ano esteve em risco a componente comunitária que a distingue de todas as outras festas.

Ainda bem que tal não aconteceu.

Parabéns Areia Larga!

Agradecimento 2

O povo utilizador do espaço balnear do Pocinho agradece, exultante, ao senhor representante da Secretaria Regional do Ambiente (sr. Veríssimo) pela forma recta e férrea como tem cumprido a sua promessa.

De facto, já não há obras no porto do Pocinho em Junho.

A ideia inicial era que “já” não houvesse porque estariam prontas mas, afinal, já não há porque o mês está quase a andar e ainda não começaram.

Grandes homens não ligam a detalhes linguísticos.

Agradecimento 1

O povo utilizador do espaço balnear do Pocinho agradece, em sentido e em fato de banho seco, à Secretaria Regional do Ambiente a forma como as obras de limpeza do porto estão a decorrer.

De facto, apesar de não adiantarem, também não atrasam.

Monumento

Quem não se lembra do Grego Zorba, de braços abertos e ar tresloucado a gritar que, se fosse rico, mandava construir duas escadas; uma para subir e outra para descer. Este foi, talvez, o hino à inutilidade mais bem conseguido de sempre.

Fui buscar essa cena aos confins da minha memória porque estamos em época de homenagens, de tributos, festividades e monumentos.

Enquanto se debatem os cidadãos para que seja feita uma estátua a uma ilustre figura da Madalena, a Câmara implantou, por interposta entidade e, suponho, apadrinhado pelo Ambiente, um monumento no Pocinho.

Trata-se de mais um marco que ilustra o brilhante trabalho que a equipa de timoneiros da nossa “Nauzinha” tem feito na busca do verdadeiro caminho da notoriedade. Ou, como dizia ontem o nosso presidente: “se o mar tá norte vai pró sul e se o mar está sul vai pró norte”.

Como de costume…Brilhante!

Quanto ao monumento, parece uma estátua representando uns degraus (aqui a semelhança com o nosso Zorba esquizofrénico) que nos conduzem ao paradigma da governação da nossa estimada edilidade: para cima e para baixo, sem sair do mesmo espaço geográfico e ideológico.

Ou seja, simplificando, sem ir a nenhum sítio!

O povo agradece a atençãozinha!






O monumento visto de vários ângulos

terça-feira, junho 13, 2006

Inovações

Há grandes inovações, pequenas inovações, médias inovações e, aquelas que nos marcam profundamente: são as inovações do caraças!

Deste tipo, das do caraças, temos várias na nossa terra.

Graças a Deus!

Vou referir apenas duas dessas brilhantes ideias que vão tirar a nossa ilha do esquecimento. São inovações trabalhadas em “thinking tanks” durante meses a fio e que nos fazem salivar de antecipação ao pensarmos no sucesso que, de certeza, vão ter.

A primeira tem tanto de brilhante como de simples. É daquelas ideias que nos fazem ficar furiosos por não termos pensado nisso antes. A maioria pensa que a Câmara não enche a piscina porque se esqueceu, ou porque não a quer estragar, ou porque a época balnear ainda não abriu, ou porque…

Enganam-se!

Numa só frase: “campeonatos mundiais de pesca à linguiça em piscina seca”.

Brilhante! Bem haja sr. Presidente! O humilde povo da Madalena agradece com o chapéu nas mãos e olhar fixo na biqueira do sapato.

A outra ideia é mais elaborada. Também o governo tem mais meios, não é verdade? Trata-se de uma prova de lançamento de políticos à água. As regras são simples, basta escolher os menos capazes (aqui reside a dificuldade da prova porque a escolha pode ser complicada) e, pegando nas extremidades, projecta-se o inútil para dentro da água. Ganha o que aterrar entre dois obstáculos com o mínimo de escoriações. O campeonato vai ser realizado no Pocinho e o campo já está preparado.

Veja-se a fotografia.

Vai ser um ano em cheio…

P.S.- de asnos!


segunda-feira, junho 12, 2006

Obras e liderança

Normalmente, avaliamos a qualidade das nossas lideranças através da obra que produzem. Quanto mais obra, melhor a liderança.

É um erro!

Qualquer pessoa, medianamente inteligente, seria capaz de, tendo uma verba elevada, mandar construir uma série de infra estruturas.

A inteligência, a capacidade de gestão e de liderança encontram-se naqueles que, para além de construir algo, são capazes de o fazer com um custo mínimo e respeitando prazos aceitáveis de realização. Essas capacidades encontramos, também, naqueles que se sabem rodear de pessoas capazes e de confiança.

Por cá, estamos tão habituados ao primeiro tipo de gestores que deitamos foguetes em toda e qualquer inauguração. Pior ainda, basta um projecto ou uma primeira pedra para que o aplauso unânime rebente de imediato. Queremos lá saber se o prazo estourou ou se a obra engoliu várias vezes o orçamento.

Quase de joelhos, limitamo-nos a pedir que façam qualquer coisa. Melhor, porque a humildade conta:

- Façam qualquer coisinha por favor!

No Pocinho, há vários anos seguidos que se paga a uma empresa de construção civil para se reconstruir o cais. É que o “filho da mãe” teima em partir anualmente. Não é que o cimento “seja mole”, mas…

Pois posso garantir que desde Maio que as obras correm em grande velocidade e eficácia, tendo já muito sido feito. Quem duvidar que veja a fotografia.


quinta-feira, junho 08, 2006

Dormir no vulcão

Há um apelo grande pelas alturas. As pessoas gostam de conquistar obstáculos e, dessa forma, sentir que a vida ainda pulsa, com vitalidade, no interior dos seus invólucros. O prazer da caminhada e da subida, no entanto, não se esgota na chegada “esbafurida” ao cume nem na corrida desenfreada para a base.

Pelo contrário. Há todo um conjunto de preliminares e de rituais posteriores que aumentam o factor simbólico e aguçam as sensações do “conquistador” de cumes. Sentir o ambiente, sorver o oxigénio rarefeito, vencer a tontura do abismo ou, simplesmente, contemplar a paisagem distante e reduzida.

Tudo isto é possível em quase todos os pontos altos do planeta. Desde às margens do lago Titicaca, às ruínas de Machu Pichu, na base do Potala, no monte kenya, passando por destinos mais prosaicos. Todos eles têm um acampamento, uma pensão, uma hospedaria ou um hotel de várias estrelas.

Pensar o Pico, como terra de futuro, passa por alargar os horizontes e tentar ver mais longe. Não permitir que a sombra do velho vulcão diminua o espaço visual.

A casa da montanha, apesar de ainda não ser uma realidade, já é insuficiente para oferecer um serviço completo e permitir uma melhor divulgação do Pico.

É tempo de, em anexo à casa da Montanha, pensar numa estrutura que permita albergar visitantes que queiram usufruir daquele espaço mítico, longe do mar e da gente.

Um espaço que permita dormir no vulcão.

segunda-feira, junho 05, 2006

“Berloques”

Hoje, com um olho fechado e outro meio aberto, fui alternando a minha atenção entre um sonho grandioso e a entrega de medalhas de reconhecimento na Sociedade Amor da Pátria.

Na casa Maçónica dava-se medalhas à Opus Dei.

Pensava que esta parte era do sonho. Não era!

Guerras ideológicas, políticas e religiosas à parte, os que lá estavam mereceram a leitura do currículo e a recepção do “berloque”.

Com esforço, porque o sono era grande, assisti até me fazerem o favor de convidar um grupo que cantava músicas de embalar. Ao som do “Santa Lúcia” cai para o lado.

No meu sonho lá estavam os bispos do Pico, o presidente da república açoriano, os heróis, mestres das lanchas, que salvam vidas em condições aterradoras e mais uma série de anónimos que fazem andar o mecanismo do desenvolvimento das ilhas. Nenhum deles apareceu na televisão.

Desta vez foram os politicamente correctos. Aqueles cujo nome faz nascer a unanimidade. Ficou, para as futuras cerimónias, a marca da calma, da modorra e do espírito fraternal. A melhor imagem desse modelo foi o abraço fraternal de Carlos César a Mota Amaral.

Até aqueles que poderiam dar uma imagem menos formal, como a espampanante e brilhante Natália Correia, não puderam estar presentes. Que esteja num sítio tão acolhedor e animado como era o seu “barzinho” na Graça.

Quanto aos outros, os heróis anónimos, o reconhecimento fica para outra cerimónia. Talvez as Câmaras Municipais se lembrem deles e lhes atribuam as honrarias que merecem.

sexta-feira, junho 02, 2006

Toldo amarelo...

O ano passado escrevi sobre o toldo gigante, amarelo como um ovo estrelado mal passado e feio como a bílis de quatro noites de farra cega, que paira, agoirento, no meio da Vila.

Que não, meu amigo; é provisório! Responderam uns.
Que não doutor; a gente habitua-se! Responderam outros.

Que sim, meus amigos! Nem foi provisório nem deu para habituar aquilo!

É verdadeiramente feio e dá um aspecto terrível ao centro da Madalena. Mesmo em ano de Mundial de futebol, aquele cartão amarelo gigante não tem justificação. Só poderia sair da cabeça de quem gosta de coisas estranhas e kitch. Combina com anões no relvado, patos donald estampados na gravata, unha grande no mindinho e outras especialidades do género.

Desta vez, ao menos, não estou sozinho. O pessoal da Câmara, farto de olhar para aquilo, resolveu mudar para outro poiso.

- Ai é! Cartão amarelo? Então “bora” pró futebol!

É assim mesmo pessoal, mostrem que ainda há bom gosto!

quinta-feira, junho 01, 2006

O Limbo

Estamos no Limbo, algures entre o céu do desenvolvimento e o inferno do atraso estrutural. O Pico não é Ilha de coesão!

Psicologicamente é bom saber que no ranking das Ilhas, não pertencemos às cinco últimas, lugar ingrato em que os apoios financeiros são maiores.

Não pertencemos ao espaço geográfico que tem direito a “majorações” nos apoios financeiros e a viagens mais baratas.

Nada disso!

O Pico é altamente desenvolvido, tem um crescimento admirável e um tecido empresarial com um dinamismo que envergonha o Burkina Faso. Aliás, se assim não fosse, não estaria no grupo da frente, ombreando com o Faial, Terceira e São Miguel.

Já há quem pense em ultrapassar as companheiras de “fortunio” e mudar o Governo Regional para as Bandeiras.

A euforia é grande e as despesas familiares dispararam.

É lindo o caminho do futuro e da fortuna!

Ou será uma forma de dizer que o Pico já levou o que tinha a levar?

Veremos!