Em passos soltos, tenho corrido uma parte deste nosso Globo. Em todos os cantos vou encontrando motivos para exclamações mais ou menos acentuadas. Em todo o lado esbarro com aprendizagens.
Esta é, talvez, a melhor parte da viagem: a consciência da riqueza das vivências, o respeito comum pelos valores ancestrais e a noção partilhada de comunidade.
Trata-se, no fundo, da celebração da cultura, da perpetuação dos ensinamentos e do respeito pela herança simbólica e prática que nos legaram os nossos “velhos”.
Não me refiro às mezinhas e rezas supersticiosas, não realço qualquer fundamentalismo social ou religioso. Sublinho e congratulo-me com a vivência simples. Com a apropriação da natureza e a busca da vida em harmonia.
Delicio-me, sobretudo, com a simbiose entre o meio e a ética libertária de quem, ao respirar o puro, consegue sentir com unidade e compreender o seu inenarrável valor de continuidade.
Uns prolongam-se nos outros!
Assim é em todo o Mundo. Não somos, neste capítulo, nem melhores nem piores do que os restantes passageiros deste bólide interestelar, desta rocha semilíquida que vagueia no pó das estrelas. Pelo menos, não devíamos ser.
Falo da consciência do efémero e do respeito pela curta duração daqueles que nos apontaram um caminho. Como nós, também os seus passos são curtos para tantos sonhos e vontades.
Seria de esperar que, também aqui, na Madalena do Pico, a idade fosse motivo de orgulho, de satisfação e, até mesmo, de reconhecimento.
Será, talvez, verdade no íntimo de cada um e nas emoções tantas vezes escondidas. Não é, no entanto, de certeza, essa a prática a que tenho assistido.
O lar para a terceira idade deveria ser um espaço pensado e construído para facilitar a vida daqueles que lá vivem. Um ponto de partida para o convívio e para a liberdade. Devia ser um facilitador das relações e um trampolim para uma nova vida que, tal como as anteriores, merece felicidade e respeito.
Um “Lar” não pode ser uma espécie de prisão de baixa segurança onde largamos os “inúteis” da nossa sociedade. Esse conceito e essa prática são, do meu ponto de vista, criminosos.
Por este motivo, horários, rotinas, actividades, agasalhos, alimentos, normas e tudo o que diz respeito ao dia a dia da nossa terceira idade “em cativeiro”, deviam ser fiscalizados e avaliados numa base periódica curta.
Não o fazer nem o exigir é pactuar com a clandestinidade dos actos. Será, no fundo, aceitar a implantação de uma espécie de matadouro primário onde, para além do fim natural, impera o sadismo de fazer vergar as personalidades que outrora admiramos. Não se trata de maltratar “os nossos” é, também, apagar a dignidade de toda uma geração.
De cada vez que nos calamos ou olhamos para o lado estamos a desistir da nossa essência e a aniquilar a nossa própria origem. De cada vez que o fazemos perdemos a nossa centelha de divino e comprometemos a nossa verticalidade.
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