Os fenómenos da comunicação são complicados. Naquele percurso, quase insignificante, que separa duas mentes que interagem, tudo pode acontecer. Da mais ridícula interpretação até à mais rebuscada teoria sobre a mensagem implícita.
Quando o diálogo é frontal, temos um conjunto de tiques, gestos e tons que podemos utilizar e que dão mais sentido à ideia.
Dizer a alguém que ele é burrito, por exemplo, e em simultâneo dar uma palmadinha nas costas ou, em alternativa, dar uma piscadela de olhos subtil, altera completamente o sentido do insulto.
Dizer a uma rapariga que é gorda é um insulto. No entanto, se for sussurrado e acompanhado de um ligeiro toque, de um olhar lânguido e de um leve roçar da lingua nos lábios, a interpretação possível é que, afinal de contas, trata-se de um elogio. O emissor está a descrever, no fundo, o seu objecto de desejo.
Se se disser a um tipo que ele é maluco e, acompanharmos a palavra com uma valente palmada nas costas. O insulto passa a cumplicidade. O receptor não ouve "maluco" mas sim "Ganda maluco". O que é, convenhamos, bastante diferente.
Na palavra escrita, estamos tramados. O que lá está é o que se diz. Não há olhar, palmadinha ou encolher de ombros. Resta apenas a colecção de letras. B-U-R-R-O. Mais nada! Não há adoçante.
Torna-se difícil de gerir as ideias e de amenizar as opiniões. Tudo parece mais brutal e seco.
Desde que leio alguns comentários vejo que há quem pense que, através do estilo, há formas de tornar o "burro" menos burro.
Veja-se um exemplo: "O sr. doutor desculpe-me, sem maldade, digo-lhe com toda a honestidade que a nossa amizade permite, por favor não se ofenda se lhe disser que penso que o sr. se passou".
Complicado não é? Será eficaz?
Náááá´! Parece que se dança uma chamarrita ao som do fado.
O melhor é apostar na capacidade de interpretação de quem lê.