Faz-me lembrar um certo peixe que saíu do Oceano Índico, à procura de águas mais frescas para se instalar. Nadou, nadou e nadou. Foi encontrando muitos locais para se instalar mas nenhum lhe agradou. Um tinha as águas muito frias, noutro o horizonte era limitado e noutro, ainda, era um reboliço estonteante de peixes em correria.
Foi continuando a sua viagem, até encontrar um calhau no meio do Atlântico. Aí se instalou, num canto mais ou menos discreto. Gostou da água pura, da vista ampla e da vizinhança. E foi ficando…
Primeiro ficava por pouco tempo, depois ia esticando as temporadas até que, por fim, acentou arraiais.
Foi conhecendo mais vizinhos e foi gostando cada vez mais.
É claro que havia uns peixes-porco que lhe azucrinavam a cabeça. Nadavam em círculo, sem saberem bem quem ele era e iam gritando que ele era de fora, que não pertencia àquele lugar, que fosse andando.
A todos respondeu da mesma maneira: Pouca peixeirada e toca a circular!
Com o passar do tempo as investidas dos malandrecos foi diminuindo e o teor dos impropérios ficando mais brando. Foram-se habituando a tê-lo por lá. Ele desconfiava que até gostavam da sua presença.
Ao fim de uns tempos mais ou menos calmos, recomeçaram os ataques. Só que desta vez eram diferentes. Em vez de ser: Não és de cá! Vai-te embora! Passou a ser: Peixe da Rocha, seu Peixe do Calhau!
O peixe da nossa história ficou satisfeito. Deram-lhe o nome do lugar. A sua imagem passou a estar colada ao nome do seu espaço. Não havia maior reconhecimento de que aquele era o seu lugar.
PS- Sinto o mesmo quando me chamam José do Pocinho ou, de forma mais sacanita, Zé do Poço. Quer dizer que sou daqui. Ou, como diria o outro, o Pocinho é eu! Cool!