segunda-feira, maio 15, 2006

Uma questão de bom-senso

Depois de concluirmos a “vista de olhos” sobre as questões legais e morais inerentes ao exercício de cargos na Santa Casa e de termos visto alguns factos que nos fazem pensar sobre a estrutura e o carácter dos “bosses”, devemos exercer algum espírito crítico relativamente a questões relacionadas com a honestidade do raciocínio na interpretação dos estatutos da Irmandade.

É sabido que os “membros dos corpos gerentes só podem ser eleitos, consecutivamente, para dois mandatos…”.

Também é sabido que, invariavelmente, quando se aproxima a data das eleições, lá está no cantinho do jornal a convocatória para uma assembleia geral que “autorize” os “senhores membros” a repetir a aventura da candidatura.

O que é pouco discutido, infelizmente, é o facto de a “assembleia geral” só o poder permitir reconhecendo, expressamente (sem meias palavras) o seguinte: “que é impossível ou inconveniente proceder à sua substituição” (dos “bosses, claro!).

Aqui é que passamos ao bom-senso. Como é que se explica que é impossível substituir uma pessoa comum quando até há voluntários para o substituir?

Aqui começa a desonestidade intelectual. É claro que, ao fazer a tal “assembleia geral” antes do período de apresentação de candidaturas, a ideia que fica é que: “não há candidatos”. Logo, é impossível a substituição.

Treta!

Em primeiro lugar porque a não apresentação de candidatos nessa altura não implica a sua não candidatura posterior. Logo: é impossível afirmar que é impossível a substituição dos “membros”. Assim sendo, o primeiro argumento é falso.

A única hipótese de manter a “desculpa” é se todos os irmãos assinarem uma declaração afirmando que são incapazes de realizar as tarefas da direcção: que são todos tolos, assumidamente!

Esta hipótese é absurda!

Resta-nos o segundo argumento: a inconveniência da substituição. Tirando o facto de ser inconveniente para o próprio, só podemos aceitar este argumento se estiverem em causa negociações delicadas em matérias de grande importância para a Irmandade ou se, por outro lado, estiver um projecto em vias de conclusão.

Aceita-se, nestes casos o argumento!

No entanto, na tal acta da “assembleia geral”, devem estar explicados os motivos da inconveniência.

Optando por esta solução, há um problema. Uma questão de bom-senso. Aceita-se uma recandidatura extraordinária para dar tempo aos “órgãos” e aos “membros” para acabarem o tal projecto ou as negociações.

Quando, aproveitando este argumento, vão sucedendo os pedidos de manutenção no cargo, há que desconfiar. Não é uma atitude honesta nem transparente e denota alguma incompetência. Pois se um novo mandato não é suficiente para acabar o projecto ou prepara-lo para ser gerido por outros, é porque não foram capazes de cumprir o prometido.

Fazendo tábua rasa dos vários mandatos que se têm sucedido, podemos concluir, com muita boa vontade, que há uma justificação para o exercício deste novo mandato. Até porque não é normal haver listas concorrentes. No entanto, à luz dos acontecimentos recentes e havendo uma lista para as próximas eleições, a saída dos actuais “bosses” é um imperativo de consciência.

Havendo um “período extra” para preparar a substituição, seria de “bom tom” que o próprio “bosse” dos “bosses” não demonstrasse qualquer intenção de recandidatura.

É uma questão de, no mínimo, bom-senso!

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