segunda-feira, maio 02, 2005

Comentários.

- São gases!

Assim, tal e qual como a história das rosas no regaço. É a forma de, a partir de uma certa idade, se ir enganando a doença.

- É pá, dói-me o peito!
- Devem ser gases - responde logo o amigo, afastando célere a ideia de um ataque cardíaco.
- Ufa! Tenho uma pontada nas costas!
- São gases, pá! Já tive disso uma vez… Responde outro enquanto sacode do pensamento as ideias macabras de rins e outros, em colapso.
- Dói-me o abdómen!
- São gases! Agora diz em coro o pessoal, enquanto pensa numa série de complicações no estômago.

Assim se vai fugindo às coisas sérias que nos desagradam. Assim vamos tornando etéreo o sólido que somos e se vai levando, com leveza, as maleitas do "cronos".

A que propósito vem esta conversa?

Pois bem, estive a ler os comentários do Post anterior e, ao chegar ao segundo exclamei:

- Uma ideia!

Depois reli e pensei melhor. Todos sabemos que os gases fazem uma espécie de uma bolha leve. Essa bolha tem tendência a subir. É da física. Ora, se os canos estão mal amanhados, aquilo sobe até ao cérebro e pode, nalguns casos extremos, formar uma cadeia de sinapses que geram um sucedâneo de ideias. Foi o que aconteceu ao comentador.

Afinal não foi uma ideia! Foram gases!

Pois paciência!

O que me fez confundir aquilo com um caso de ideia original foi o facto de haver alguma verdade no raciocínio. Certos gases têm essa influência e esse resultado.

De facto, e a verdade é essa, eu sou um ladrão!

Vou repetir, porque já imagino outra bolha a subir rápidamente ao cérebro desgastado do comentador:

Sou um ladrão!

Roubei o sossego de algumas almas que se tinham desabituado a pensar. Roubei o descanso daqueles que faziam o que lhes mandavam sem ter o trabalho de questionar. Roubei um pouco do vazio de alguns cérebros que, finalmente, conseguiram acrescentar um brilho aos olhos. Roubei um ou outro sorriso, ao longo destes meses.

Veja-se a sorte que o comentador teve ao acertar no seu raciocínio. Tivesse ele tanta sorte na manipulação da língua que teria um convite para escrever os discursos do presidente da Câmara.

Não apago, hoje pelo menos (amanhã logo veremos) porque (e aproveito para responder a outra questão) ao contrário de Skinner, não sou comportamentalista. Fica o comentário para que o autor tenha modelos de referência. Assim, sempre que ler as suas "tropeçadelas" mentais, poderá pensar:

"Gostava de ser como este gajo. Ter a coragem que ele tem e a mesma capacidade de diagnóstico".

Quanto ao outro problema, aos cães costumo dar aero-om e funciona.

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