Discute-se muito, está na moda, os conceitos de cidadania, ética e moral. Até parece que são ideias transcendentais que o comum dos mortais não abarca. São difíceis!
Berram pelas esquinas conceitos de meta-ética e meta-filosofia. Os apóstolos mais frágeis constroem projectos de vida e enfabulam críticas gerais ao povo desatento. Clamam em público absurdos do tipo; sem terceira idade não há identidade, familias mono-parentais estão condenadas ao esquecimento cultural... com direito a psicanalista e "prosac".
Até vem nos jornais! Pedem-se enciclopédias, medalhas e nome de rua para os oradores. (Leia-se o Ilha Maior desta semana).
Forte ignorância!
Não partilho, de maneira nenhuma, dessa tendência para complicar o fácil, para criar falsas élites intelectuais e para mistificar temas que são, afinal de contas, o nosso dia-a-dia.
Os conceitos principais, para compreender esta treta da cidadania, são três: Cutura, Ética e Moral.
A cultura não é mais do que a forma de pensar do colectivo; a expressão das suas tendências e dos seus gostos. Referimo-nos, claro está, ao conceito de média e mediana: A maioria do pessoal acha fixe o piercing no nariz, logo, o piercing no nariz é culturalmente correcto (aceite e normal). Fácil e claro!
A ética, simplificando, é a distinção abstracta do bem e do mal. Conceitos longe do peso do dia-a-dia e da nossa vivência cultural. É bem, logo está no oposto do mal. Linear e sem dúvidas. Sem, sobretudo, contextos culturais complicadores da decisão.
A moral, pelo seu lado, é a ética misturada com a cultura. A minha experiência é esta, logo a minha ética é esta. O que é bem passa a responder à minha experiência e não a conceitos e enfabulações intelectuais. As leis passam a corresponder à realidade.
Roubar é mau, do ponto de vista da ética.
Roubar uma farmácia que está fechada para salvar a vida da minha criança moribunda pode ser bem, do ponto de vista da moral (afinal a vida é sagrada!).
A confusão instala-se: Afinal roubar é bem ou é mal?
Nem uma coisa nem outra. Ética e moral não são a mesma coisa nem partilham, necessáriamente, os mesmos conceitos e valores.
Depende da cultura, em última análise.
Estas questões podem-se colocar para a eutanásia, para o casamento homossexual e para o aborto. Podem-se colocar para a "junk food", para a sardinha assada e para o bife de vaca. É bom, moralmente aceite e éticamente correcto nas sociedades ocidentais mas é errado, éticamente incorrecto e moralmente condenável nas sociedades orientais (India, por exemplo).
Ponto final!
No fundo, a verdadeira questão em discussão não é a ética nem a moral.
O que está em causa é a maturidade do ser humano para definir o que é o bem e o que é o mal, para si e para os seus semelhantes.
Sabendo que, ainda há pouco tempo, se matava judeus, se exercia a escravatura e estavamos metidos numa guerra mundial. Sabendo que, ainda agora, a humanidade segrega, explora e ignora semelhantes. A única conclusão possível é que a ética e a moral estão em construção e que, aquilo que temos actualmente está longe do ideal.
Assim sendo, cidadania é contribuir para o funcionamento do todo e para a construção dos conceitos de ética e das normas morais da sociedade.
O fundamental é não perder a perspectiva: A humanidade está num estádio de relativa infantilidade e o seu julgamento é, ainda, pouco fiável. Ou seja: A verdade de hoje poderá ser a mentira de amanhã.
Não haja dramas. Desde que o contributo seja honesto, o exercício da cidadania está a ser cumprido. Seja o Xico da Areia ou o Bin Laden. Do conflito nasce a evolução. Não só económica e científica, mas, também moral, ética e cultural.
No fundo está tudo bem. Basta participar.
Esse é o segredo da cidadania!
Participem!
PS- A propósito deste tema pode-se ler o livro de Pedro D´Orey da Cunha que se chama Ética e Educação. É o oposto do que eu penso mas os argumentos são os mesmos. A edição é da Universidade Católica.
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