quinta-feira, março 17, 2005

O Frangote

Desde pequeno que dava nas vistas. Sempre na ponta das patas, peito inchado e crista levantada, não havia conversa de galináceos em que não tivesse uma opinião. Uma não, várias opiniões. Muitas delas contraditórias.

Garboso, inchado e petulante ganhou o nome do "duas cabeças". O frango de duas cabeças. Tal era a sua habilidade para argumentar e contra-argumentar. Incomodado com o silêncio fazia, sem esforço, as despesas da conversa. Assumia as posições mais controversas e, com repentismo, esganiçava a voz e exigia, a si próprio, o direito ao contraditório.

Cacarejava, cacarejava e cacarejava!

A mãe galinha dizia, a quem a quisesse ouvir, que o seu menino, quando fosse grande ainda ia ser um dos que mandam: "Vai trabalhar na casa grande do Faial, na casa amarela!" e terminava sempre com um "có-cró-có-có-có" enfático.

"Vai, vai! Com aquela mania que é mais do que um ainda vai mas é parar a casa amarela da terceira, à dos doidinhos!"

Diziam os mais afoitos, enquanto lhe viravam as costas. Nessas alturas o nosso frango ficava doido, não pelo que diziam mas sim por lhe virarem as costas.

Ainda frangote, as visões de mamãe galinha confirmaram-se. Meteram-no num tacho e amparado por vários galos que viam nele um grande potencial de inércia e que, portanto não lhes faria qualquer sombra, levaram-no para a casa amarela. A do Faial.

Aí, tímido porque a audiência é outra e não se deixa levar com fanfarronadas, tem feito uma carreira muito discreta.

Cá fora a história é outra. O resto do pessoal cansou-se de toda aquela verborreia. Há coisas que têm piada quando são pequenos mas que são meras tolices em idade adulta.

Sem a atenção que despertava noutros tempos devido ao facto de ser um fenómeno raro, como aqueles nabos do entroncamento que pesam mais de cinco quilos, tratou de se virar para o mundo.

Disse a quem o quis ouvir que, coitado de mim "estive na incubadora", "orfão de políticas e de religião" (coitado do triste) "aqui me apresento".

E foi andando uns tempos. Chegou mesmo a criar outros locais, com nomes falsos, para poder aumentar a audiência. Escrevia, respondia a si próprio, voltava a argumentar, insultava-se e defendia-se. Chegou a tal ponto que, sem saber já o que era a realidade e a mentira, acabou por ter de fechar as "lojas".

Acredito que bons conselhos e boa medicação o levaram a isso. Esteve manso durante uns tempos mas, o peso do anonimato era insuportável. Lá mandou um mail a provocar um, uma boca para outro e tentou renascer.

Sem obter resultados, teve uma recaída.

Agora foi para o "forum" de outro e entre o ser ou o nada, preferiu o ser (tolinho). Lá está: já escreveu uma mensagem, atacou-se a si próprio e voltou a defender-se atacando outros.

Cuidado que está no início…ainda vai piorar.

Se virem o frangote nas ruas dêm-lhe milho mas mantenham a distância. Tentará dar uma bicada, de certeza! Pensa que é galo!

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