segunda-feira, março 14, 2005

Solidariedade

Ser-se solidário, ao contrário do que poderia parecer à primeira vista, não deveria ser do domínio moral. Quando a solidariedade está presa à ideia de normas e de carris de conduta, nunca é isenta de interesses.

Faz-se o bem ou partilha-se algo na perspectiva de ganhar uma contrapartida. Pode ser o reconhecimento, mais uma alma para o nosso céu privado ou, até, o prazer de "encarrilar" um "extraviado social".

A solidariedade com base na moral é, sempre, uma troca. Um comércio com recompensas mútuas.

Por outro lado, quando a solidariedade existe comandada pelo domínio da ética, sabemos que os actos são praticados porque fazem sentido e nada mais. Não existe troca. Existe, apenas o sentido de bem e de justiça.

Sendo a maioria das pessoas levadas por motivações morais e não éticas, também os nossos políticos delineiam as suas acções por bitolas morais. Estas estão mais perto da cultura local e, logicamente, dão mais votos.

Se assim não fosse, teriamos governos menos moralistas mas mais correctos na sua forma de governar e legislar. Correctos no sentido ético e não no sentido da aprovação social.

Uma Câmara que se preocupasse com o que se passa no seu Concelho deveria ser solidária. Saber exactamente as necessidades das pessoas que vivem no seu espaço geográfico e tudo fazer para as colmatar.

Deveria criar uma espécie de observatório das condições sociais.

Seria muito mais benéfico do que fazer jantaradas na Covilhã ou do que distribuir cimento a quem o troca pelo seu voto. Há, sem dúvida, pessoas que precisam do cimento. Concordo que se dê nesses casos, sem exigir depois a sua alma e a sua lealdade. Há pactos que tornam quem os pratica indignos.

No nosso Concelho existem pessoas em situações sociais e económicas abaixo do limiar da pobreza. Não vejo os responsáveis locais a fazer nada para resolver essas situações. São pessoas que, talvez, não tragam muitos votos nas eleições.

O próximo presidente da Câmara deverá ser alguém sensivel a estas questões. Não me refiro à propaganda dos números de telefone de emergência que não funcionam.

Torna-se caricata a propaganda feita semanalmente nos jornais e diáriamente na rádio. Torna-se insuportável a publicação de revistas inúteis. Torna-se ridícula a tentativa de dar uma imagem de modernidade, de colorir um perfil de competência, quando, afinal o modelo é fraco, cinzento e incapaz.

A Câmara gastar fortunas em supérfluos, sejam carros, assessores ou salários de futebolistas, é insultuoso para uma população que acredita na solidariedade e que vê no seu meio pessoas que passam fome.

Se os nossos pequenos governantes locais pensam que essa tarefa é exclusiva do Governo Central e que a sua actuação deve ser só sobre a componente "construtiva" do Concelho, então posso afirmar que nada sabem de política nem das funções do cargo que ocupam.

Os eleitos servem as pessoas e não os bens.

Vai sendo tempo de perceber esta realidade e de acabar com a vergonha de ser governado por quem pensa que a inteligência política é espalhar asfalto, distribuir cimento e "dar nas vistas".

Creio que estamos prontos para passar a outra fase.