Existe, nas discussões sobre o tema “investigação qualitativa” versus “investigação quantitativa”, uma questão recorrente que, simplificando, poderíamos denominar como a comparação entre a “cientificidade” de ambas. Esta discussão pretende legitimar a opção de utilização de metodologias contrapondo validades.
Uma outra atitude, moderadora, advoga a utilização de ambas num continuum pragmático de reforço da validade dos estudos. Esta posição, ao não colocar em causa o valor intrínseco das diferenças entre as duas abordagens, é para esta reflexão pouco interessante, na medida em que não constitui uma posição argumentativa.
Como ponto de partida metodológico, colocamos em campos opostos a abordagem interpretativa e a positivista.
O paradigma positivista, ao reduzir os factos sociais e humanos à sua componente comportamental (observável), implica uma tomada de posição epistemológica segundo a qual o aparelho conceptual utilizado privilegia as expressões: fenomenalismo, objectivismo, empirismo, nomotetismo e previsionismo (Lessard e Boutin, 1990). O objecto de estudo, deste ponto de vista, deverá consistir num fenómeno observável e controlável, sujeito a leis gerais que permitam predizer a sua ocorrência.
O posicionamento comportamental/positivista implica, portanto, a aceitação de alguns pressupostos que colocam em causa a importância do indivíduo enquanto unidade distintiva. Consideram, no entanto, a possibilidade de predição do seu comportamento. A lógica é a de que em determinada situação, perante um conjunto de estímulos qualquer indivíduo deverá responder com um conjunto de comportamentos tipificados. Trata-se da adopção da curva normal como ponto de referência em que as ocorrências marginais, porque percentualmente pequenas, devem ser ignoradas ou utilizadas como referencial que legitima a média.
A opção pelo paradigma positivo implica a adopção de um conjunto de regras de procedimento que garantam que, na comunidade científica em que está inserido, o investigador seja reconhecido como tal e, consequentemente, as suas conclusões consideradas pertinentes (objectivas, válidas e fiáveis).
O paradigma qualitativo/interpretativo, pelo seu lado, ao adoptar uma postura filosófica dualista (materialista e espiritualista), dá particular relevo ao indivíduo. Este, isolado
ou em situação, é considerado como um centro de processamento da informação (construtor de significado) que reflete nos seus actos a dinâmica existente entre o espiritual e o material. A compreensão do significado das acções permite ao investigador descodificar as relações indivídual/social/cultural. Não tem como objectivo, portanto, a criação de leis gerais mas sim a compreensão em profundidade dos fenómenos particulares referentes ao indivíduo, isolado ou em situação.
Em síntese, mais do que duas metodologias de trabalho, são duas construções mentais do mundo. Uma algorítmica, no sentido da busca de fórmulas que traduzam e prevejam o real e, outra hermenêutica que procura o sentido dos acontecimentos.
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