Paradigma Qualitativo e Subjectividade
O aparecimento e expansão da abordagem qualitativa corresponde ao conceito Kuhniano de revolução científica. Ao subsistirem áreas do real que, por definição, não são explicadas pelo paradigma quantitativo, as ciências sociais e humanas procuram uma nova abordagem epistemológica a que corresponde uma reconstrução do mundo. Esta, ao deslocar o objecto de estudo do comportamento para a atitude, implica a valoração do indivíduo enquanto agente de construção do mundo. Este deixa de ter o valor numérico Gaussiano e passa a ver o seu estatuto de processador de informação (ser social e cultural) reconhecido e reforçado.
Esta viragem a que corresponde uma nova visão, se não do mundo, pelo menos da importância que as suas componentes têm, implica uma aceitação metodológica explícita da componente subjectiva.
Relativamente ao pressuposto subjectivo do paradigma qualitativo pouco mais haveria a dizer, uma vez que ele é enunciado e aceite pela comunidade científica, se não houvesse uma resistência à aceitação do seu valor intrínseco. Referimo-nos, por exemplo, ao esforço de alguns teóricos em justificar o valor “objectivo” de variáveis subjectivas, numa preocupação constante com a validade interna das investigações. Esta postura constitui, do nosso ponto de vista, um paradoxo na medida em que, ao ser adoptada, reconhece implicitamente o valor das críticas feitas pelos quantitativistas radicais.
O posicionamento dos teóricos do continuum metodológico, pelo seu lado, ao defender a utilização mista de técnicas qualitativas e quantitativas argumentando que os procedimentos de investigação não interferem na orientação epistemológica fundamental do investigador, deixam subentendido que a componente numérica/quantitativa traz uma mais valia importante ao resultado final das investigações. Esta argumentação pode levar à conclusão que existe uma validação quantitativa dos instrumentos de pesquisa qualitativa. A existir esta validação, enfraquece, do nosso ponto de vista, toda a argumentação que defende o valor intrínseco da pesquisa qualitativa. Parece-nos que a validação quantitativa é uma falsa questão uma vez que, como vimos anteriormente, aquele paradigma não está isento da componente subjectiva.
A subjectividade da investigação não está presente apenas no polo teórico e epistemológico. Parece-nos que, pelo contrário e independentemente do paradigma adoptado, é uma constante em todos os momentos da investigação.
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