Recolha de Dados e Subjectividade
O processo de recolha de dados, comum em ambos os paradigmas, é claramente perceptivo e depende de variáveis constantes e circunstanciais. Independentemente da definição dos objectivos da investigação e dos instrumentos seleccionados na procura da objectividade, é sempre o indivíduo o centro de toda a actividade: de um lado o investigador e do outro o objecto de estudo/informante numa relação complexa entre dois sistemas complexos. Nesta inter-relação interferem factores individuais (personalidade, idade, sexo, estado de saúde, grau de conhecimento, capacidade de expressão, etc.), factores sociais (estatuto, família, grupos de pertença, etc.), factores morais (regras de conduta, normas sociais, etc.) e factores afectivos (determinação, desprezo, felicidade, etc.). Este conjunto de variáveis associam-se em combinações infinitas dando origem a personalidades diferentes que, em última análise deveriam, para que o processo de recolha de dados seja objectivo, ter o mesmo referencial, utilizar a mesma linguagem e, sobretudo, serem capazes de descodificar o valor simbólico da informação transmitida.
No processo de comunicação que se estabelece o investigador recorre, regra geral, a auxiliares de prova (inquéritos, questionários, entrevistas, observação, etc.) que, aparentemente garantem a objectividade dos dados recolhidos. Esta informação, no entanto, só tem valor pelo seu potencial interpretativo. Implica, portanto uma selecção (a partir de um paradigma) e uma análise simbólica e estrutural (sintágma). Neste processo, que já não é de representação mental da realidade mas de interpretação da construção mental da realidade do outro a partir dos nossos referenciais, interferem, para além dos elementos já mencionados, um conjunto de competências que deveriam ser comuns: linguística, paralinguística, proxémica, executiva, pragmática e sócio-cultural, entre outras (Bitti e Zani, 1997).
Parece-nos, à luz desta complexidade, que a recolha de dados é sempre uma tentativa de aproximação à realidade e a sua quantificação a recriação do código. Em última análise, apesar de metodologicamente facilitador, a quantificação funciona como um elemento de aumento da subjectividade da informação recolhida, na medida em que implica uma categorização interpretativa e a sua tradução para um código diferente do original. Esta passagem de um código para outro implica a selecção da informação e, consequentemente, algumas alterações do sentido.
Para além do processo de comunicação que se estabelece entre o investigador e o seu objecto de estudo, parece-nos importante, também, a própria natureza dos instrumentos utilizados. Sem querer ser exaustivo na análise destes, vejamos apenas um exemplo. Existem algumas regras de construção de um inquérito que permitem minimizar a não resposta e confirmar a veracidade das respostas. Existem, também regras de construção que permitem abordar os respondentes de forma facilitadora da adesão e cálculos à posteriori que nos permitem, inclusivamente, utilizar as não respostas como respostas. Apesar de conhecermos muitos casos de inquéritos teoricamente mal construidos, não é esse o centro da nossa atenção. Interessa-nos, sobretudo, o facto de em todas as circunstâncias, o indivíduo que responde ter um elevado grau de liberdade de resposta. Isto implica que a resposta pode não coincidir com as suas reais convicções ou, na melhor das hipóteses, que corresponda aos seus sentimentos do momento que não serão, provavelmente, os mesmos que terá noutras circunstâncias.
Entre a decisão da investigação e a construção das conclusões existe um conjunto de passos metodológicos que não foram abordados nesta reflexão. Este facto deve-se a uma opção de partida. Não é nosso objectivo analisar todo o processo de investigação em função do paradigma escolhido mas, apenas, verificar a relação objectividade/subjectividade inerente à opção do investigador.
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