Tenho acompanhado a polémica sobre os materiais utilizados na construção. Nunca a eleição entre a madeira, a pedra e o betão esteve tão in como agora.
A polémica ultrapassa fronteiras e chega a outras ilhas e vários meios de comunicação. O medo é comum e o pânico generalizado.
Socorro que vem aí a moda de construir em madeira!
A invasão do pré-fabricado está em curso e já nem os nossos amigos americanos a podem travar, dizem, “afanicados”, os mais receosos.
Não se pense que a discussão é nova. Já há muito tempo, num local nunca bem identificado, os três porquinhos discutiram sobre o mesmo assunto. Também eles, através da experiência, que é a fonte da sabedoria popular, concluíram que o que era bom, seguro e bonito era construir uma casa com tijolos e muita argamassa.
Os tempos mudam e as histórias também. O bufo do lobo mau deixou de ser uma ameaça e o centro da discussão reorientou-se. Passou-se a discutir a questão da integração em substituição da segurança.
Amaricou-se a coisa! Em vez da força, passa a contar a beleza!
A maioria pende, neste duelo de materiais, neste concurso de “miss house”, para a exclusão da candidata mais jovem. Que não tem idade nem tradição, que é fraquita, que vem de fora ou, mais refinado, são modernices de estrangeiros. E a ladainha, acompanhada de abanões de cabeça afirmativos, prossegue até ao pânico.
“Vão-nos lixar a tradição!”
“Pois, tá sujeito!”
E não há-de vir mal nenhum ao mundo por isso. Para começar, acho que a concorrente “madeirenta” deve entrar na corrida ao título. Cá na nossa “pedra”, até há tradição de construção de casas ou zonas exteriores em madeira. Veja-se, por exemplo, a Junta de Freguesia da Madalena, a casa da Criação Velha, as “torrinhas” das casas da Vila e, indo mais longe, as frontarias em cimento imitando madeira.
Por outro lado, a madeira tem a mesma nobreza da pedra. Provêm do mesmo tronco comum: a família da “natureza”. Quanto ao betão, mais tipo “VIP Açores”, é de famílias mais recentes, mais aburguesadas mas com menos “pergaminhos”.
A concorrente Pedra continua a ser “charmosa”, apesar da idade. Já poucos a escolhem para “casar” (digo, fazer casa). É aquela que todos dizem bem, que até é eficiente, que é gira e inteligente mas que, no final, no escondido, acaba por ficar solteira.
A de betão, isso sim! Molda-se à gente!
Pode ser grandalhona e marcar presença (tipo correios da Madalena), pode ter uns lindos pezinhos (como o azulejo de interior espetado no exterior da Filarmónica), pode ter os atributos pequeninos e subidinhos (como as janelas da nova construção em frente à Filarmónica), pode ser imponente e majestosa (como os armazéns e outros estabelecimentos que pululam na vila) e coroa de glória, pode-se ver tudo por dentro da roupagem (como a nova Câmara).
Enfim, o betão, é como o silicone e o botox. É só ter dinheiro que dá para fazer como se gosta.
Cada um com a sua mania!
O problema é exactamente esse. As casas reflectem as manias do dono, uma vez que as aprovações são muito liberais.
Essas manias materializam-se sempre, independentemente dos materiais utilizados.
Uma casa feia é uma casa feia.
Há grandes aberrações construídas em madeira no Centro da Vila (tipo esplanadas abarracadas à moda da “Azinhaga dos Besouros”), há abortos em cimento e “coisas menos conseguidas” em pedra.
O oposto também é verdadeiro.
Há construções agradáveis e bem integradas em todos os materiais!
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