quinta-feira, maio 11, 2006

Uma questão de moral

Voltando à vaca, antes que arrefeça, cumpre-me terminar a trilogia. A segunda etapa deste Matrix à moda da Madalena e que tem a ver com a nossa Santa Casa, visa as questões da elevação do ser e da eternidade. Pior que uma auditoria das finanças deve ser o momento da entrada para aquele recinto celestial onde, como se lê nos quartos de banho públicas, “todo o cobarde faz força e todo o valente se caga (de medo)”.

Não é para menos: a eternidade é longa.

Este comentário faz sentido se repararmos que nos estatutos da Santa Casa está escrito que, para se pertencer à irmandade, é necessário “gozar de boa reputação moral…” e “aceitar os princípios da doutrina e da moral cristãs…”.

Como sou curioso, consultei vários documentos e, todos eles, nos dizem que a expressão não é aplicada no sentido figurado. Pelo contrário, somos remetidos para as suas formulações “mais típicas”. A saber: as bem-aventuranças, os conselhos evangélicos e, para que não restem dúvidas, os mandamentos.

Os mandamentos são aquela dezena de pequenas frases de natureza maçónica (porque esculpidas na pedra), que nos fazem lembrar um gigante colérico e ameaçador que nos atirará para o fundo poço do demónio se, por exemplo, de forma distraída e malandra, “catrapiscarmos” as olheiras ébrias à dama do cavaleiro míope e ausente dos deveres conjugais.

Em síntese, no que à irmandade diz respeito, quem pecar “tá fora”!

Há que rezar, frequentar as missas, cumprir os mandamentos e acreditar nas bem-aventuranças. E tem de ser na totalidade! Um pecadilho, mesmo daqueles menos vistosos e está o “caldo entornado”.

Por esse motivo não sou “irmão”. Há uns tempos, já não me lembro da data exacta, uma irmã “das primeiras” propôs a minha entrada na irmandade, cumprindo todos os “proformas” necessários.

Fui rejeitado!

Nunca houve justificação nem a mim nem, por cortesia, à pessoa que me propôs (a quem eu agradeço a confiança demonstrada e a ousadia da decisão).

Até compreendo porque fui rejeitado!

É um facto que nunca fui a pé a Fátima, não rasguei as joelheiras em frente ao altar nem, à boa forma do “Código Davinci”, coloquei os cilícios em forma de liga. Para dizer a verdade, nem as básicas deslocações domingueiras ao lugar do culto tenho tido tempo e disponibilidade para fazer.

Lógico que fui rejeitado! Estava à espera de quê?

Ainda por cima quando conhecemos a natureza pura e cândida das pessoas piedosas e obedientes à igreja que estão à frente dos órgãos sociais da Santa Casa. Esses santos homens que, contra todas as tentações da alma e da carne, resistem estoicamente com o único objectivo de nos mostrar o “caminho” da salvação.

Sem mácula, com o maior desprezo pelas suas próprias necessidades, são os que nos salvam. Bem hajam!

Bem hajam por serem dois esteios da moralidade, dois bastiões da sã conduta, duas torres Petronas da fé e dois supositórios gigantes dos bons costumes…



(Malasia 2005 - torres Petronas - Foto do autor)

Sem comentários: