O “Chuinga” é um tipo banal, não dá nas vistas e aventurou-se pouco na vida. Algumas tropelias conta-as com entusiasmo, outras, coitado, conta-as por ausência da noção de vergonha e decoro.
A que mais repetidas vezes refere, foi a sua aventura à Graciosa. Dois dias longe de casa e um Mundo do tamanho da Ilha para descobrir. Do que melhor se lembra foi da sensação de liberdade que sentiu. Ninguém o reconhecia e, por isso, poucos gozaram com ele.
Das indecorosas, apenas uma após o matrimónio atribulado, que o levou à capital. Em núpcias rumou a Lisboa e, desorientado, alojou-se numa pensão no Cais do Sodré, mais a sua Maria. Cedo foi notado pelos costumeiros da zona. Ele marcava pelo ar atoleimado, ela pelo enfadado com que o aturava. De dia ou de noite, era a Maria que comandava. Ia à frente vários passos, como que se demarcando daquele emplastro que se lhe colava à sombra como um penso anti tabaco se cola à omoplata.
Uma bela noite, fingindo-se distraída, entrou numa das discotecas onde as mulheres sem a sua vontade faziam o que a ela apetecia para ganharem o sustento dos vícios próprios e dos alheios.
Tal a sua ansiedade e vontade se notavam que, mal bateu na cadeirinha de madeira, ainda as pernas não se tinham cruzado e já Abdul, conhecido proxeneta da zona, de ascendência Marroquina, tinha o esquema pensado e pronto a avançar.
E avançou!
Pediu para se sentar, encomendou bebidas e foi ignorando, ostensivamente, a presença do “chuinga” que se sentava na ponta do banco, ligeiramente afastado da mesa, como se não pertence-se aquele quadro.
Algumas horas depois, Abdul mandou sentar a Roberta, juntando ao grupo uma das suas profissionais mais robustas. Negra, alta e musculada, tinha tanto de feminina como de português tinha o seu sotaque de além mar… Pouco!
Abdul, percebendo a névoa que toldava o cérebro do casal, arremessou sem temor nem pudor:
- Que tal uma noite swinger?
O nosso homem balbuciou pela primeira vez. Mais por reflexo do que por exercício mental:
- Uma noite “chuinga”?
E assim se colou o nome à triste figura. Abdul fez o que quis e lhe apeteceu, deixando a Maria extasiada. O “Chuinga” não se lembra de nada, a não ser do “petit nom” que a Roberta lhe aplicou, por motivos óbvios e indescritíveis num espaço decente: “Limpa fundos”.
Encurtando e história, e cortando as partes mais sórdidas, Maria continua em Lisboa e trabalha para Abdul. Roberta, que afinal era um travesti brasileiro foi a Marrocos realizar o sonho da sua vida, que estava na ponta de um bisturi. O nosso amigo “chuinga”, que continua a jurar que não se lembra de nada, que o Abdul não era mau rapaz e que se divertiu muito naquela noite, anda por aí. Não dá nas vistas e continua anónimo roído pelas saudades da Maria e da Roberta. Sonha com um reencontro e, na maior das inocências, daquela que só é possível na ignorância absoluta, escreve por todo o lado o seu grito de socorro:
- um bar “chuinga”, por favor!
Esteve neste Blog, o triste, e escreveu o mesmo. Sejam pacientes com o pobre tolo que sofre muito.
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