quinta-feira, fevereiro 24, 2005

Contexto

Escrever, dizer coisas, é simples. Então quando nos dão um tema, torna-se uma fonte inesgotável. São dias e dias de considerações e de análises, de perspectivas e de opiniões. Ora são as palavras, ora as ideias, depois a pontuação, a gramática e, porque não, o contexto.

Estava agora a pensar no mail do deputado. No mail que o nosso "homem" me enviou. Pensava na coragem e na decisão que tal atitude implicou. Nos minutos nervosos que atecederam o premir da tecla "enter". O medo e a consciência. A cobardia e o impulso. Todos numa luta titânica.

Depois, subitamente, ocorreu-me a questão principal; o contexto.

Era domingo, aproximava-se a reunião do PS e, para além de todas as guerras internas, o Candelária estava no continente. O Candelária jogou e ganhou. Meu Deus que excitação! O suor, a testosterona, a adrenalina e, sobretudo, a imagem dos sticks no ar. Hernâni não resistiu…premiu o "enter"! E o mail lá seguiu.

Atrás ficou a imagem trémula da insegurança que o acto acarreta. O medo profundo da asneira e da consequência. Lá no fundo, na área consciente, ficou a ideia: lixei-me!

Pois foi…

Prece uma novela Brasileira. Imagino o Hernâni a telefonar ao Serpa:

"Coroné! Coroné! Temos a runião!"

"Sim, Capetão!"

"Mando os Jagunço, Coroné?"

"P´ra calar os rapá, Capetão?"

"Sim Coroné! Que manda ocê?"

"Manda fax, Capetão! Jagunço não!"

"Pode ser mail, Coroné?"

"Manda mail, Capetão!"

"Inté, Coroné"

"Inté!"

E o mail lá seguiu. Meio ameaçador e meio envergonhado. A ideia ainda correu o cérebro várias vezes. Que nome lhe hei-de chamar?

Parvocas? Nã…muito "abichanado"!

Parvinho? Nã….muito intímo!

Parvão? Nã…sem significado!

Parvalhão? Yes! (Imagino o saltinho púdico e os dedinhos a esticadinhos em sinal de vitória). Yes! Yes! Yes!

"Como sou ousado! Sou uma fera! Sou pior que o Castelo Branco! Uiiii!"

E assim foi. Nos anais da história regional fica, para sempre, a memória do fax do deputado. Nem Eça nem Camilo poderão algum dia descrever a importância do acto. Aliás, tal atitude só poderia ser correctamente descrita pelo autor do "Furúnculo", pelo nosso grande Vilhena ou, em alternativa, pelos malucos do riso.

E a reunião lá aconteceu. Fez-me lembrar um poema da escola. Não pela autenticidade, mas sim pela sequência dos oradores. Falou o Hernâni, o Serpa e a tal menina que não posso referir. A irmã do deputado. E depois, voltaram a falar na mesma sequência.

E o poema de Pedro Dinis, dizia:

"Palra a pega e o papagaio
E cacareja a galinha:
Os ternos pombos arrulham:
Geme a rola inocentinha"

Que ternura!