sábado, fevereiro 26, 2005

Erro fatal.

Ouvi dizer que, estando em Lisboa, o nosso Hernâni foi visitar o Professor Mamadou, insigne leitor do futuro, analista do passado e certeiro atirador dos ossos de galinha e/ou frango, conforme as circunstâncias. O professor diz o que não diz e promete o que imagina o consultado, desde que pague. Pode ser em euros! Também, em circustâncias específicas, dá lições sobre a visão presente do futuro passado ou, em outras palavras, do presente amigável; do que nos agrada mais.

Professor Mamadou fez escola na Etiópia e cursou "sériosamente" (a sério) nas ruas movimentadas de Abou Dhabi. A especialização do Cairo não foi melhor do que a de Damasco nem do que o estágio nos arredores de Paris. No entanto as consultas vão dando para pagar a renda. Professor Mamadou cura doenças venéreas, raquitismo e mau olhado em geral. Vai sobrevivendo…

"Professor Mamadou, obrigado por me receber!"

"Xêêêêê! Sens probrema! Já pagastes amigo, diz qual é o teu vontades!"

"Sou Hernâni! Do Pico!"

"Sou os Mamadou, dos Luanda e Maputo! Tu vais e eu fico!"

"Quero ver! Mostra-me o caminho!"

"Abre os olho…p´ro Intendente vais infrente, mas…vais sozinho"

"Mostra-me o pensamento do José do do Pocinho!"

"Xêêêêê! É perigoso esse teu vizinho!"

"Diz-me, quero saber!"

"fecha os olho, amigo, tu vais ver!"

Seguiram-se momentos de suspense. Houve fumos coloridos e flashes de branco puro. Hernâni teve de beber uma mistela que continha aguardente de cana e saliva de Mamadou, entre outras substâncias inomináveis. Hernâni, guiado pelo seu "pai de santo" pegou nos ossos de frango (estão mais baratos no minipreço do que as galinhas da praça), rodou a bola de cristal, empunhou as cartas e, sério e concentrado, afirmou num tom tão elevado que até Mamadou se envergonhou:

"Tou vendo…quer dizer…tou sentindo…quer dizer….tou ouvindo!"

"Amigos Herenâne! Tás nos Pocinho. Tás nos cabeça dos habitante dos Pocinho!" Disse Mamadou, tentando guiar a tripe bêbeda do seu cliente.

"Tou ouvindo! Entendo as suas ideias! Está a pensar em comer! Não pensa noutra coisa!"

"Sôr Hernanes! Proveitas. Tás na cabeça deles….pregunta os coisa que queres saber!" Orientou Mamadou.

Hernâni aproveitou e gritou:

"Que queres de mim?"

A resposta deixou-o meio atordoado. Sem perceber nada do que se passava Hernâni arreganhou o beiço, puxou o cabelo e, com voz fina, disse:

"Quer-me cheirar o traseiro, o tolo! Parvalhão!"

E conforme fez a descoberta saiu a correr do consultório. Feliz por ter algo por onde atacar o seu inimigo. Até aquele momento tinha sido alguém tão superior que nem lhe passava pela cabeça contradizer ou, pelo menos, inventar algo que o diminuisse. Agora, pelo contrário, graças ao professor Mamadou, tinha algo concreto para atacar.

"O tolo, parvalhão, queria cheirar o meu traseiro!".

Hernâni chegou à pensão. Um quartinho muito em conta que lhe permitia poupar algumas das ajudas de custo. O seu quarto, num corredor bastante movimentado por umas senhoras de sessenta e tal anos e mini-saia, tinha uma vantagem. Tinha uma ficha para ligar o computador à Net. Fez pontaria e, nervoso, lá escreveu:

"Ó Parvalhão!"

Tolamente lá enviou o e-mail.

Não passou meia hora e o telefone tocou, era para o nosso "Hernane", chamava o professor Mamadou.

"Sôr Hernanes! Não faz nadas!"

"Já fiz! Sacana! Cheirar o traseiro…mandei-lhe um mail!"

"Sôr Hernanes! Sôr José não estava no seus casa!"

"Como é isso? Que queres dizer? Eu estive dentro da sua cabeça!"

"Não Sôr Hernanes! Ele não estavas em casa! Era os cão! Só estava em casa os cãos! Os cãos é que queria cheirar traseiro de Hernanes! Os cãos pensava que Hernanes era cadela piquena!"

"…"

Hernâni ficou sem palavras.

"Sôr Hernanes?"

"Sim!"

"Os cãos gostou de voceis! Queres vortá?"

No fundo, bem no fundo, Hernâni queria. No entanto, não ousou! Desligou o telefone.

Forte parvalhão, este Hernâni, digo eu!

E assim aconteceu, sem mais nem menos, a triste história do mail do "Hernane". Outras versões se contarão no futuro. Mas o único que conhece a verdade é o poderoso Dr. Mamadou. O único vidente africano que colocou a pequena mente de um deputado açoreano dentro do cérebro (ligeiramente maior) de um cão e….ainda se ri disso!