segunda-feira, fevereiro 28, 2005

Eleições

Estive, este fim de semana, a analisar os resultados eleitorais da Madalena. O que está para trás, o que deveria ter sido feito e não foi, não está, agora, em causa.

Tentemos aprender com os factos.

Esqueçamos, por momentos, os preconceitos e as frases feitas do costume.

Sendo assim, temos de concluir o incontornável; o PS perdeu na Madalena.

No entanto, o cenário não é completamente negro, no que diz respeito às eleições que se seguem.

1- Em primeiro lugar, comparando o resultado destas eleições com os das eleições anteriores, concluimos que há uma fixação do eleitorado do Partido Socialista.
2- Esta conclusão é importantíssima para definir a estratégia das próximas eleições. Se o eleitorado do PS é fixo, a questão do candidato é secundária. Trata-se, agora, de encontrar um candidato pouco "personalizado" e que, pelo contrário, tenha a sua imagem colada à imagem do partido. Terá que ser alguém das cúpulas do partido. O Serpa está reformado e o Manuel Tomáz já deu para este peditório, sobra o deputado, o Hernâni.
3- O nosso candidato às autárquicas deveria ser, não uma pessoa, mas sim o próprio partido. Sendo a hipótese académica, deve ser, na prática, alguém cuja imagem nada mais tenha, do ponto de vista curricular, do que o serviço ao partido (e vice versa).

Porquê esta conclusão?

Por vários motivos:

1- O PS perdeu por apenas 91 votos, nada irrecuperável!
2- O PS perdeu nas Bandeiras por 42 votos. Nada de mais, depois das guerras internas em que, como consequência, vários militantes perderam o seu cartão. Nada de muito grave, depois das questões absurdas com a luz do Cais Morato e com os cabos "em terra". Com tacto e com humildade esta diferença pode ser diminuída para 22 (em vez dos 42).
3- O PS perdeu na Madalena por 34 votos. Nada de muito preocupante, tendo em conta a percentagem de abstenção. Temos de ter em linha de conta, ainda, os restantes votos à esquerda que, no caso da Madalena foram de 32. Estes votos serão úteis em futuras eleições bipartidárias. Conte-se, ainda, com a votação dos jovens que foi, sem dúvida, à esquerda. Estes votos somados aos dos jovens que estudam fora e os que, estando cá, vão votar pela primeira vez, dão boas perspectivas para a Madalena.
4- O PS perdeu por 92 votos na Criação Velha. Os mais cautelosos do partido atribuem a esta diferença, e à Criação Velha, a eterna Vitória do PSD. Nada mais falso! A diferença de votos até pode ser irrecuperável nesta Freguesia mas, esse facto não é determinante.
5- A Criação Velha não é determinante porque, na Freguesia Monte/Candelária, o PS ganha por 139 votos. Ou seja, a diferença desta Freguesia anula, completamente a votação da Criação Velha. Aliás, anula a Criação Velha e ainda sobram 47 votos para anular outra freguesia.
6- Em São Mateus o PS perde por 37 votos. É natural a diferença de votos. A população não acredita em sistemas monárquicos em que os filhos sucedem aos pais. O ter arrumado os anteriores líderes do núcleo para os substituir pela filha do Serpa foi uma ideia desastrosa para o Partido.
7- Em São Caetano o PS perdeu por 25 votos.

A primeira conclusão é que a diferença global é pouco significativa.
A próxima votação discute-se, sobretudo, na Madalena, nas camadas mais jovens e nos abstencionistas.
Há um potencial de recuperação nas outras freguesias.
Há um número considerável de votos para ir buscar à esquerda que não vai concorrer às autárquicas. Mais do que a votação que o CDS-PP teve.
A Criação Velha não é problema. Pelo contrário, o Monte/Candelária é que é um problema para o PSD.

De certeza que se houver recuperação dos votos perdidos nas Bandeiras (por simples arrogância dos líderes do PS local), se se souber recuperar a influência dos líderes de São Mateus e se se souber cativar os Jovens da Madalena, o Partido Socialista ganha as eleições autárquicas. Independentemente de quem for o candidato da direita.

Para tal basta, como já disse anteriormente, esquecer o mito do culto da personalidade e colocar a sufrágio o próprio partido. Nomear para cabeça de lista um dirigente.

sábado, fevereiro 26, 2005

Pocinho 2

As ondas batem forte e o Faial desapareceu de vista. O mar está branco e os peixes confusos.


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Erro fatal.

Ouvi dizer que, estando em Lisboa, o nosso Hernâni foi visitar o Professor Mamadou, insigne leitor do futuro, analista do passado e certeiro atirador dos ossos de galinha e/ou frango, conforme as circunstâncias. O professor diz o que não diz e promete o que imagina o consultado, desde que pague. Pode ser em euros! Também, em circustâncias específicas, dá lições sobre a visão presente do futuro passado ou, em outras palavras, do presente amigável; do que nos agrada mais.

Professor Mamadou fez escola na Etiópia e cursou "sériosamente" (a sério) nas ruas movimentadas de Abou Dhabi. A especialização do Cairo não foi melhor do que a de Damasco nem do que o estágio nos arredores de Paris. No entanto as consultas vão dando para pagar a renda. Professor Mamadou cura doenças venéreas, raquitismo e mau olhado em geral. Vai sobrevivendo…

"Professor Mamadou, obrigado por me receber!"

"Xêêêêê! Sens probrema! Já pagastes amigo, diz qual é o teu vontades!"

"Sou Hernâni! Do Pico!"

"Sou os Mamadou, dos Luanda e Maputo! Tu vais e eu fico!"

"Quero ver! Mostra-me o caminho!"

"Abre os olho…p´ro Intendente vais infrente, mas…vais sozinho"

"Mostra-me o pensamento do José do do Pocinho!"

"Xêêêêê! É perigoso esse teu vizinho!"

"Diz-me, quero saber!"

"fecha os olho, amigo, tu vais ver!"

Seguiram-se momentos de suspense. Houve fumos coloridos e flashes de branco puro. Hernâni teve de beber uma mistela que continha aguardente de cana e saliva de Mamadou, entre outras substâncias inomináveis. Hernâni, guiado pelo seu "pai de santo" pegou nos ossos de frango (estão mais baratos no minipreço do que as galinhas da praça), rodou a bola de cristal, empunhou as cartas e, sério e concentrado, afirmou num tom tão elevado que até Mamadou se envergonhou:

"Tou vendo…quer dizer…tou sentindo…quer dizer….tou ouvindo!"

"Amigos Herenâne! Tás nos Pocinho. Tás nos cabeça dos habitante dos Pocinho!" Disse Mamadou, tentando guiar a tripe bêbeda do seu cliente.

"Tou ouvindo! Entendo as suas ideias! Está a pensar em comer! Não pensa noutra coisa!"

"Sôr Hernanes! Proveitas. Tás na cabeça deles….pregunta os coisa que queres saber!" Orientou Mamadou.

Hernâni aproveitou e gritou:

"Que queres de mim?"

A resposta deixou-o meio atordoado. Sem perceber nada do que se passava Hernâni arreganhou o beiço, puxou o cabelo e, com voz fina, disse:

"Quer-me cheirar o traseiro, o tolo! Parvalhão!"

E conforme fez a descoberta saiu a correr do consultório. Feliz por ter algo por onde atacar o seu inimigo. Até aquele momento tinha sido alguém tão superior que nem lhe passava pela cabeça contradizer ou, pelo menos, inventar algo que o diminuisse. Agora, pelo contrário, graças ao professor Mamadou, tinha algo concreto para atacar.

"O tolo, parvalhão, queria cheirar o meu traseiro!".

Hernâni chegou à pensão. Um quartinho muito em conta que lhe permitia poupar algumas das ajudas de custo. O seu quarto, num corredor bastante movimentado por umas senhoras de sessenta e tal anos e mini-saia, tinha uma vantagem. Tinha uma ficha para ligar o computador à Net. Fez pontaria e, nervoso, lá escreveu:

"Ó Parvalhão!"

Tolamente lá enviou o e-mail.

Não passou meia hora e o telefone tocou, era para o nosso "Hernane", chamava o professor Mamadou.

"Sôr Hernanes! Não faz nadas!"

"Já fiz! Sacana! Cheirar o traseiro…mandei-lhe um mail!"

"Sôr Hernanes! Sôr José não estava no seus casa!"

"Como é isso? Que queres dizer? Eu estive dentro da sua cabeça!"

"Não Sôr Hernanes! Ele não estavas em casa! Era os cão! Só estava em casa os cãos! Os cãos é que queria cheirar traseiro de Hernanes! Os cãos pensava que Hernanes era cadela piquena!"

"…"

Hernâni ficou sem palavras.

"Sôr Hernanes?"

"Sim!"

"Os cãos gostou de voceis! Queres vortá?"

No fundo, bem no fundo, Hernâni queria. No entanto, não ousou! Desligou o telefone.

Forte parvalhão, este Hernâni, digo eu!

E assim aconteceu, sem mais nem menos, a triste história do mail do "Hernane". Outras versões se contarão no futuro. Mas o único que conhece a verdade é o poderoso Dr. Mamadou. O único vidente africano que colocou a pequena mente de um deputado açoreano dentro do cérebro (ligeiramente maior) de um cão e….ainda se ri disso!

Pocinho

A noite promete mais calma do que ontem. Os raios cairam perto e a chuva fustigou a nossa paciência. Hoje, o mar rebenta branco sobre as pedras mas, a noite está calma. Durmam bem.


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sexta-feira, fevereiro 25, 2005

Candelária, olé!

Há dias, e noites, em que não apetece pensar em coisas negativas nem em pessoas com má "onda". Há dias em que só queremos ver coisas boas. Hoje é um desses dias. Não me apetece corrigir erros nem gritar ao ouvido dos surdos.

Hoje está uma noite gloriosa. O pico está branco de neve e a lua redonda, enorme, ameaça chuva para breve mas, entretanto, oferece-nos toda a sua força e traduz a noite em matizes de cinzento claro. O mar reduz o seu movimento a um mínimo e concorre, através do seu ritmo certo e seguro para a vibração certa do momento. Acrescente-se o poderoso cheiro do incenso, feche-se os olhos e passamos a estar no Tahiti, em Bora-Bora, nas Seichelles ou, simplesmente, no Pocinho.

Sendo essa a disposição, resta-me escrever algo positivo.

Seja!

Quero dar os parabéns ao Candelária! Não apenas pelos seus resultados, que são espectaculares mas, sobretudo, pela capacidade que tem demonstrado de mobilizar um grande número de adeptos.

Depois de um punhado de anos a marcar passo, num campeonato pequeno, houve uma mudança de direcção. O novo presidente, Vasco Paulos, conseguiu que a equipa subisse de divisão. Soube rodear-se de bons apoios e melhores jogadores e está, neste momento, na luta para a subida à divisão maior.

Parabéns!

Mas não esqueçamos o mais importante: a mobilização popular que os seus feitos têm conseguido. O pavilhão da Cardeal Costa Nunes enche sempre que o Candelária joga. E, mais do que tudo, enche com pessoas altamente empenhadas e que partilham o mesmo objectivo. Parabéns aos adeptos. A todos! Aos que se penduram na guarnição de ferro a insultar o árbitro, aos que batem palmas discretamente, aos que gritam entusiasmados e, muito especialmente à "claque" organizada.

Parabéns a todos os "carolas" que têm tornado o sonho de vitória uma realidade. Todos aqueles que, sem pensarem em compensações financeiras dão o seu saber e o seu tempo à "causa" do Candelária. É o Roberto, o Ricardo, o Vasco e tantos outros cujo nome desconheço mas aprecio o trabalho.

Parabéns aos jogadores que, sendo quase todos de lugares longínquos, souberam envergar a camisola do Candelária com tanto brio e valor. Parabéns, enfim, a todos os que têm apoiado a equipa!

Sei das dificulddaes que a equipa tem atravessado. Sei que há pressões para que o Candelária não suba à divisão maior. Sei que há dificuldades, inclusivamente, na hora de treinar e que faltam os "Sticks". Sei disso tudo e muito mais. Não vou falar disso!

Fica apenas o meu apelo que, tenho a certeza, representa a vontade da maioria dos adeptos: lutem pela subida de divisão com todas as vossas forças. Vão ter, de certeza todo o nosso apoio. E não se esqueçam que "mais vale rainha uma hora do que princesa toda a vida".

É aproveitar as eleições que se avizinham para largar o peso morto. Desporto não é política!

Um grande abraço e votos de muito sucesso.

No próximo sábado lá estaremos todos a gritar:

"Candelária, olé!"

Maria José Tomás Pacheco Medeiros

Nasceu em 1951 na Ilha de Santa Maria, Açores. O seu trabalho tem sido regularmente apoiado pela Fundação Calouste Gulbenkian, Ministério de Cultura e Secretaria Regional da Educação e Cultura (Açores). Tem os cursos de Pintura da Faculdade de Belas Artes, Universidade Clássica de Lisboa (1984); Desenho de Modelo da Sociedade Nacional de Belas Artes (1986); e Gravura em Metal, Casa das Artes, Universidade Clássica de Lisboa (1984); Desenho de Modelo da Sociedade Nacional de Belas Artes (1986); e Gravura em Metal, Casa das Artes de Tavira, (1990). É Professora do Curso de Gravura da Galeria Diferença e membro da Direcção da mesma Galeria, Lisboa.


mtomas1

quinta-feira, fevereiro 24, 2005

Contexto

Escrever, dizer coisas, é simples. Então quando nos dão um tema, torna-se uma fonte inesgotável. São dias e dias de considerações e de análises, de perspectivas e de opiniões. Ora são as palavras, ora as ideias, depois a pontuação, a gramática e, porque não, o contexto.

Estava agora a pensar no mail do deputado. No mail que o nosso "homem" me enviou. Pensava na coragem e na decisão que tal atitude implicou. Nos minutos nervosos que atecederam o premir da tecla "enter". O medo e a consciência. A cobardia e o impulso. Todos numa luta titânica.

Depois, subitamente, ocorreu-me a questão principal; o contexto.

Era domingo, aproximava-se a reunião do PS e, para além de todas as guerras internas, o Candelária estava no continente. O Candelária jogou e ganhou. Meu Deus que excitação! O suor, a testosterona, a adrenalina e, sobretudo, a imagem dos sticks no ar. Hernâni não resistiu…premiu o "enter"! E o mail lá seguiu.

Atrás ficou a imagem trémula da insegurança que o acto acarreta. O medo profundo da asneira e da consequência. Lá no fundo, na área consciente, ficou a ideia: lixei-me!

Pois foi…

Prece uma novela Brasileira. Imagino o Hernâni a telefonar ao Serpa:

"Coroné! Coroné! Temos a runião!"

"Sim, Capetão!"

"Mando os Jagunço, Coroné?"

"P´ra calar os rapá, Capetão?"

"Sim Coroné! Que manda ocê?"

"Manda fax, Capetão! Jagunço não!"

"Pode ser mail, Coroné?"

"Manda mail, Capetão!"

"Inté, Coroné"

"Inté!"

E o mail lá seguiu. Meio ameaçador e meio envergonhado. A ideia ainda correu o cérebro várias vezes. Que nome lhe hei-de chamar?

Parvocas? Nã…muito "abichanado"!

Parvinho? Nã….muito intímo!

Parvão? Nã…sem significado!

Parvalhão? Yes! (Imagino o saltinho púdico e os dedinhos a esticadinhos em sinal de vitória). Yes! Yes! Yes!

"Como sou ousado! Sou uma fera! Sou pior que o Castelo Branco! Uiiii!"

E assim foi. Nos anais da história regional fica, para sempre, a memória do fax do deputado. Nem Eça nem Camilo poderão algum dia descrever a importância do acto. Aliás, tal atitude só poderia ser correctamente descrita pelo autor do "Furúnculo", pelo nosso grande Vilhena ou, em alternativa, pelos malucos do riso.

E a reunião lá aconteceu. Fez-me lembrar um poema da escola. Não pela autenticidade, mas sim pela sequência dos oradores. Falou o Hernâni, o Serpa e a tal menina que não posso referir. A irmã do deputado. E depois, voltaram a falar na mesma sequência.

E o poema de Pedro Dinis, dizia:

"Palra a pega e o papagaio
E cacareja a galinha:
Os ternos pombos arrulham:
Geme a rola inocentinha"

Que ternura!

Nina Medeiros

Nasceu em 1963, Ilha de São Miguel, Açores. Licenciada em Pintura no Montserrat College of Art (1988). Especalizada em "Art Education", na University of Mass (1990). Foi docente no Centro integrado de Formação de Professores da Universidade dos Açores (1994-96). É Professora do Ensino Secundário na Escola G/B Antero de Quental.


ninamedeiros1 2

Resposta ao mail

Boa noite e obrigado pelo comentário

Teresa:

A minha luta é tão simples como isso; haver um espaço interno de discussão e de debate. Quatro anos sem reuniões não facilitam….Se temos opinião própria, se acreditamos na ideologia, temos de arranjar os nossos próprios espaços. É pena….mas é assim que as coisas estão nesta Ilha.

Espero que a desmotivação não a leve a abandonar este espaço. Todos fazemos falta!

Um abraço

José Eduardo

Um Mail

Leio o seu blog, embora nunca o comente. Leio-os porque,vivendo no continente, longe de um dos sítios de que mais gosto, a ilha do Pico, tudo o que lhe diz respeito me interessa. Hoje apreciei a sua descrição dessa noite em que se sente o Inverno com o ruminar do mar a entrar em "nossas" casas... ao som de Norah Jones, melhor ainda! Mas as críticas que faz ao PS, na minha opinião, devem ser ditas em sede própria, pois, por aquilo que percebo é militante do PS, onde terá as estruturas para fazer ouvir a sua voz.

Sinceramente, acho que um militante deve fazer TUDO o que está ao seu alcance dentro das estruturas partidárias, para se fazer ouvir. Fora delas, pode e deve ter uma voz crítica, mas não uma voz maldizente.

Digo isto porque, para quem não está dentro das politiquices da ilha, como eu, esse tipo de comentários desmotiva a leitura. É apenas uma opinião....
Com a minha admiração e estima

Teresa Perdigão

quarta-feira, fevereiro 23, 2005

Espertos e inteligentes

Que falta de stress!

Meter o CD da Norah Jones no carro, encostar a cabeça no banco e seguir sem rumo. Qualquer dia dou a volta à Ilha só para o ouvir até ao fim.

Melhor ainda é chegar a casa e ver as ondas a rebentar no porto. Já há uns dias que isso não acontecia. É optimo…é inverno!

Para além de tudo isso, uma chuva forte que molha até dentro, bem fundo.

Ter isso tudo, numa só noite, é perfeito. Hoje tive. Agora é só comer a "sandoca" de presunto, beber a cerveja, passear com os cães e escrever um pouco. Vamos ao que falta.

Foi uma esperteza por parte das cúpulas do PS local terem marcado a reunião do núcleo da Madalena para, aparentemente, discutir as estratégias para a presidência da Câmara da Madalena. Foi esperteza porque, sem qualquer tipo de compromisso conseguiram fingir um acto democrático. Qual foi a validade dessa atitude? Qual foi a alteração da sua estratégia autista?

Zero para a primeira e Zero para a segunda!

A reunião nada alterou da forma de fazer política local. Reune-se um grupo de pessoas que não estão habituado a dialogar, pede-se a sua opinião e obtem-se o mesmo que se conseguia em qualquer café da vila; um conjunto disperso de opiniões inconciliáveis que, em última análise dão o poder de decisão aos "líderes". Em síntese foi o que se passou. Tivemos "montes" de opiniões e de estratégias possíveis e, porque nem sequer havia tempo, nada foi devidamente debatido. Foi uma esperteza. Meio saloia, sem dúvida, mas uma esperteza. Aguardemos o discurso final que vai começar por afirmar, de certeza, que: "desta vez até ouvimos as bases…"

Tretas!

A verdadeira inteligência estaria no campo do Secretário Coordenador do núcleo da Madalena se, com base no que viu, na vontade de participar de todos os militantes que responderam à chamada, convocasse, de imediato, uma reunião para que se debatessem as diferentes estratégias e se definisse um rumo para o futuro. Não aproveitar este capital de mudança é um erro inqualificável. Não permitir que aqueles que, desinteressadamente, querem contribuir para um futuro melhor, ofereçam a sua capacidade e o seu tempo é, neste contexto, uma atitude ignóbil. É uma prova irrefutável de seguidismo e de falta de capacidade de liderança.

Esperemos que a uma atitude esperta se siga uma inteligente. Esperemos que os modelos de Portas e Santana façam clique nas nossas mentes tão pouco iluminadas.

Esperemos sentados…

Luis França

Nasceu em 1953, em Ponta Delgada, São Miguel, Açores. Licenciou-se em Artes Plásticas (Pintura) pela Escola Superior de Belas Artes, de Lisboa. Desenvolve trabalho de atelier paralelamente com actividade pedagógica no ensino oficial. Professor no ARCO (Centro de Arte e Comunicação Visual) entre 1983 e 1992. Está representado em colecções particulares, instituições como o Museu Carlos Machado, Museu de Angra do Heroísmo, Museu dos Baleeiros - Pico, Secretaria Regional da Educação, Governo Regional dos Açores, Montepio Geral e Caixa Vigo, Espanha.


lfmachado1

terça-feira, fevereiro 22, 2005

Micro e macro

Tivemos as eleições, temos um inverno tão calmo que o mar nem se quer se faz ouvir, temos as primeiras cagarras a chegar à ilha, temos o cheiro intenso do incenso em flor e tivemos, não faz muito tempo, a reunião do PS da Madalena.

Haja fôlego para tanta emoção.

Estes temas acabam por estar todos ligados. O cheiro a incenso aponta a vitória e a raridade dos cagarros lembra a reunião do Partido.

A cheirar menos bem está o resultado do PS na Madalena. Tão mau como aqui só em São Jorge e em Leiria. A Madeira não conta!

Porque será que esta derrota, nesta conjuntura, se verificou na Madalena?

Por váras razões. Basta ter estado na reunião ndo PS para perceber.

É claro que não vou falar dos detalhes. São assuntos internos.

No entanto posso referir o seguinte:

1- Foi uma pena a mesa não estar completa. A menina que aí tinha assento (Laurisabel) não pôde comparecer à reunião porque tinha um encontro dos escuteiros. Chama-se a isto uma grande capacidade de analisar as prioridades. É claro que os escuteiros são mais importantes do que o futuro da Madalena. É claro que é mais importante estar "alerta" no meio dos bosques e manter acesa a chama da fogueira do que tentar, com o canivete Suiço, desbravar novos caminhos para o Partido Socialista. Antes esta desculpa do que dizer que tinha uma reunião com o Ken e com a Barbie.
2- Os filiados, as bases, apareceram em número razoável e demonstraram, sobretudo, uma vontade em participar e contribuir para que o Partido se modifique e ganhe a importância que merece. A participação generosa e desinteressada dos militantes obteve respostas pouco concretas da mesa da reunião. A única resposta clara foi aquela que, da voz do nosso deputado, confirmou que José António Soares não é nem nunca foi uma opção para a Câmara Municipal da Madalena.
3- Quanto à situação do PS na Madalena ouvimos o histórico do PS, o ex-deputado Serpa dizer que a Madalena era tradicionalmente Social Democrata e que a conquista de votos era quase impossível. Esqueceu-se de que os votantes no PSD são os mais velhos, (ver resultados eleitorais da mesa dos recenseados mais recentes - o PS ganhou) e que há uma enorme abstenção. A conclusão imediata é que o PS não ganha porque não tem qualquer dinâmica junto da juventude. Aliás, não tem qualquer dinâmica…ponto!
4- Ouvimos um membro da mesa a dizer que o melhor, para resolver a questão das divisões dentro do partido seria expulsar todos aqueles que pensam de forma diferente. É claro que estas afirmações foram ouvidas pelas bases, por nós, de forma bastante condescendente e com alguns sorrisos de compreesão e simpatia.
5- A irmã do deputado Hernâni, que afinal está nos séniores e não nos juvenis, também falou. Disse, e muito bem, que era preciso união dentro do partido. O irmão mais velho respondeu que nada havia a fazer. Que isso dependia da consciência de cada um.

Enfim! Um cenário de pouca inteligência. Um cenário de impotência e falta de ideias constrangedor. As principais linhas de acção apresentadas pela mesa (e não aceites pelos militantes) foram, com base no que atrás foi descrito, a necessidade de um candidato de direita para impôr a esquerda, a vontade de fazer uma limpeza interna e a conclusão segundo a qual nada há a fazer, senão deixar andar.

Tanta incompetência até dói. O silêncio do mar torna-se mais ensurdecedor e o cheiro do incenso não esconde o podre a que esta liderança tresanda.

Os factos são os seguintes;

Os militantes querem alterar as coisas e contribuir para uma dinâmica de vitória em que todos estejam implicados de forma responsável.

Os militantes querem ser ouvidos. Querem mais reuniões.

O Partido Socialista voltou a perder na Madalena.

O Partido Socialista nada fez para ganhar na Madalena.

Por menos do que isto a maioria dos líderes demite-se, aceitando a sua incapacidade

Logo, a única conclusão possíve é que:

Os líderes do PS da Madalena deveriam apresentar a sua demissão. É a única saída digna. A sua manutenção apenas demonstra um apego cego ao poder.

Eduardo Teixeira

Nasceu em 1943, em Ponta Delgada, Ilha de São Miguel, Açores. Curso Superior de Pintura na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa. É professor de Educação Visual. Monitor de Artes Plásticas no Centro Profissional CIVEC.


eduardoteixeira1

segunda-feira, fevereiro 21, 2005

Eleições 1

Hoje foi um dia grande. Um dia longo na expectativa e enorme na esperança. Um dia em que a grande maioria dos portugueses depositaram nas urnas de votos uma vontade de mudar de políticas.

Ao fazê-lo manifestaram, sobretudo, um sentimento de desespero provocado pelo agravamento das condições de vida que têm vindo a sentir no decurso dos últimos anos.

A responsabilidade do Partido Socialista é enorme. É necessário muito rigor e competência para dar resposta a este pedido que a população portuguesa lhe fez. Melhorar as condições de vida, desenvolver o país e rumar ao desenvolvimento não são tarefas fáceis.

Estou confiante que o Partido Socialista honrará as suas responsabilidades e não embarcará em vias fáceis nem em clientelismos partidários.

Há imensas lições a retirar do dia de hoje. Algumas delas implicam uma reflexão mais cuidada, outras, pelo contrário, são imediatas.

Realço aqui algumas inteligências e as espertezas.

Marques Mendes foi inteligente em, neste contexto, ter avançado com a sua candidatura à liderança do PSD. Desta forma ultrapassou vários concorrentes.

Paulo Portas foi muito inteligente em ter anunciado a sua demissão. É possível que dentro de seis meses a um ano (se não antes), seja levado a ombros para o lugar de líder do PP. O seu discurso deu-lhe dignidade e credibilidade. Pena foi (para ele) o facto de ter insultado o eleitorado ao dizer que apenas em países do terceiro mundo se assiste a uma votação tão elevada em partidos de "extrema esquerda". A mensagem interna foi boa mas a externa não.

Santana Lopes foi esperto e manteve-se como possível líder do PSD. Adiou a sua queda e passou para os seus correligionários a decisão da sua manutenção. Adia a saída mas não a evita. Esperteza a prazo, própria de quem tem um ego do tamanho do mundo e acredita que, em congresso, conseguirá manter o seu posto. Não acredito que tal seja possível.

Foram inteligentes todos aqueles que, hoje, se mantiveram calados.

Todos os dos restantes partidos, os que ganharam, tinham direito a serem menos inteligentes. Muitos usufruiram desse direito.

Serão inteligentes todos aqueles que aprenderam a lição base: líderes que não conseguem promover a unidade nos seus partidos (a nível local ou nacional) têm os dias contados.

Carlos Carreiro

Quadro: George Orwell, 1984

Nasceu em 1946, em Ponta Delgada, Ilha de São Miguel, Açores. Professor Auxiliar da Faculdade de Belas Artes do Porto.


ccarreiro1

sexta-feira, fevereiro 18, 2005

Até que enfim!

Até que enfim que consegui aceder à Net. Já começava a pensar que precisava de um "choque tecnológico"!

Consegui a ligação num dia muito especial. Já devem ter reparado que é tardíssimo, no entanto não consigo dormir com a excitação. Quatro (4) anos depois, fui convocado para uma reunião do Partido Socialista.

E sabem que mais?

É hoje!

Farão com certeza a mesma pergunta que eu fiz. Porquê esta convocatória ao fim de tanto tempo?

Só há três respostas possíveis:

1- É obrigatório, do ponto de vista estatutário.

2- Estão aflitos.

3- Convém fazer pensar que a escolha do candidato à Câmara foi colectiva e consensual para, em caso de derrota, dividir as culpas.


A resposta certa é... a um, a dois e a três!

Quanto a mim, tudo bem. Já estava com saudades de ver, juntos e ao vivo, os mais importantes da Ilha e beber directamente a sua sabedoria. Lá estarão, no cimo do estrado, o Hernâni, o Serpa, o Manuel Tomás e a Laura Isabel. Todos a olhar o Horizonte, como bons funcionários. Vai ser emocionante….

Mesmo que não sirva para nada.

Desmentido

Gente com classe desmente com classe. Tipos vulgares e pouco inteligentes desmentem como são, de forma ordinária.

Deputados desmentem como são na vida real. Se são mal formados, dão largas à sua veia e desbargadamente gritam os seus argumentos. Se são idiotas, não se limitam a desmentir, aproveitam para acrescentar o insulto.

Vem este texto a propósito de uma visita ao meu e-mail. Aí encontrei um texto que mais do que uma opinião ou uma sugestão é, sobretudo, um auto-retrato. O auto-retrato de alguém desiquilibrado que começa a fraquejar com a pressão. Alguém que caminha a passos largos para o esgotamento (nervoso e político).

O mail é o seguinte:

De: hernâni jorge
Responder para: hernani-jorge@oninet.pt
Enviado: domingo, 13 de fevereiro de 2005 21:28:41
Para: "Marazul-05@hotmail.com"
Assunto: Parvalhão


Ó parvalhão,
Podes inventar o que te apetecer acerca de mim que não ligo, mas não permito que metas ninguém da minha família nas tuas intrigas e mentiras, desde logo porque a minha irmã não é - nem nunca foi - da Juventude Socialista.
Agraceço que publiques o comentário.
Hernâni Jorge


Se a irmã do deputado Hernâni, ao contrário do que me tinham informado, não pertence à J.S., as minhas desculpas pelo erro. Não seria crime nem desonra!

Quanto à classe do escrito pouco há a dizer. No entanto não resisto:

Não nos esqueçamos que o mail foi escrito por um deputado, uma pessoa com poder político. Alguém mandatado pelo povo para pertencer a uma das Instituições de maior prestígio da nação. Alguém que, esperavamos, se portasse um pouco melhor do que um vândalo, melhor do que um arruaceiro e nunca, nunca, como uma besta.

A prosa raia a demência e parece um grito de desespero. É uma confusão primária entre a coragem, a arrogância, a provocação, a agressão e a estupidez.

Quanto ao conteúdo, pouco há a dizer.

Em primeiro lugar, este Blogue é de opinião e toda a informação que contém, sendo da minha própria experiência, é verdadeira.

Em segundo lugar, casos pontuais em que seja necessário corrigir alguma informação, cá estarei para o fazer.

Em terceiro lugar a pessoa do Hernâni Jorge nada me diz, nem tenho nada para dizer sobre ele. É-me completamente indiferente. Agora, sendo deputado, figura pública, direi sempre o que achar que devo dizer. Não reajo a qualquer tipo de censura!

Em quarto lugar, a prosa do mail não me foi estranha e vem na linha de alguns comentários anónimos que encontrei neste e noutros Blogues da Madalena. Um tom provocatório de menino mal comportado e mal educado.

Por último, devido à enorme diferença que nos separa, sobretudo do ponto de vista cultural, moral e ético, futuros mails vindos de si, só serão comentados se forem escritos com o mínimo de educação. Para tal, para merecer a minha atenção, deverá começar sempre por escrever:

Exmº Sr. Dr. José Eduardo Rocha.

José Nuno da Câmara Pereira

Nasceu em 1937, na Ilha de Santa Maria, Açores. Licenciado em Pintura pela Escola Superior de Belas Artes de Lisboa. Artista residente no Centro de Arte Moderna em 1985-86 e bolseiro da Associação Calouste Gulbenkian e da Fundação Luso-Americana (1987-1988). Durante este período frequentou o Center for Advanced Visual Studies do M.I.T. - Massachussets Institute of Tecnology, Cambridge USA.


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domingo, fevereiro 13, 2005

Campanha

É fundamental para os Açores a existência de uma maioria do Partido Socialista nas próximas eleições Legislativas.

Lembram-se, concerteza, que após a entrada do Governo PSD de Durão Barroso, a primeira dificuldade, para os Açores, foi o recebimento das verbas que tinham sido prometidas e aprovadas pelo Governo Socialista. Lembram-se, também, que as dívidas dos Açores foram diluídas na solidariedade socialista.

Seria de esperar que os Açoreanos, nomeadamente os do Partido Socialista, se empenhassem numa campanha activa para mobilizar os votos no sentido de obter a maioria absoluta.

A campanha já começou. Alguém deu por isso?

Não!

Porque será que os políticos locais, nomeadamente os "profissionais" que vivem do partido, que empregam filhos, sobrinhos, amigos e demais "corte", quando chega a altura das eleições, têm tanta relutância em sujar as mãos e dar a cara. Evitam vir para a rua fazer campanha e colar cartazes.

Por vários motivos:

1- São finos demais para desempenhar essas tarefas. A poderosa elíte política não suja as mãos

2- Não mobilizam as bases do partido porque não têm sobre ela qualquer influência

3- Não conseguiram criar uma Juventude Socialista que é, por definição, mais empenhada e generosa. Limitaram-se a inventar a sigla e dizer que a líder seria a irmã do Hernãni.

4- Estão habituados a viver parasitáriamente debaixo do nome de Carlos César.

5- Se fizerem campanha é pior para o partido. Não arrastam ninguém, antes pelo contrário, até afastam os votantes. Vejam, por exemplo a diferença de votos na Candelária, entre o presidente da Junta e o Manuel Tomás, nas anteriores autárquicas.

Todas as alíneas são verdadeiras. De facto, nem são capazes nem seriam úteis. É melhor para todos que fiquem quietos e calados.

Quando um partido retira estas conclusões sobre os seus líderes é triste.

Ou antes, eles é que são uns tristes líderes.

sábado, fevereiro 12, 2005

De cátedra!

Quando alguém critica, seja o que for, é costume ouvir dizer que criticar de fora é fácil. Que se fosse connosco não falariamos assim. Regra geral até estou inclinado a aceitar a crítica. Não porque concorde muito com ela mas porque não sei, nunca, como reagiria se fosse comigo. Fica, no fundo, o grande "benefício da dúvida".

Desta vez sei!

Refiro-me à lista de deputados do Partido Socialista para a Assembleia Legislativa Nacional. Sei perfeitamente como reagiria se os convidados ao cargo tivessem alguma coisa a ver comigo. Por exemplo, se fossem da minha família.

Sei sim senhor!

Quis o acaso que uma das candidatas a deputada, por sinal num lugar não elegível (nem que a vaca tussa), é da minha família. A nona é da casa…é minha prima.

Típico vim, vi e venci. Típico do Partido!

Jovem rapariga, esperta. Vem dos lados de Viseu e faz o seu curso na Terceira. Gosta das Ilhas e vê uma oportunidade de se instalar. A Ilha não é a mais apelativa mas, para quem gosta do Arquipélago, qualquer uma é boa. Instala-se nas Flores.

Não passa meio ano e está nas listas do PS.

Porque é que isto acontece? Porque duzentos e tal mil açoreanos fizeram uma sondagem e decidiram que de todos que cá habitam, a minha prima, é a nona melhor pessoa para nos representar no Parlamento? Porque não havia mais ninguém?

Não!

Isto acontece por desrespeito absoluto pelas Instituições. Porque temos que enganar o povão e escolher um de cada Ilha, como se fosse real o sentimento e o raciocínio que levam às escolhas. Como se tratasse de uma política séria.

Algo do tipo: querem nomes? Cá vão nomes!

Já agora encha-se a lista de mulheres. Resolve a questão da distribuição sexual dos cargos e dá um ar másculo aos candidatos machos. Assim rodeados até parecem mais virís.

O que é que a minha prima pensa do assunto?

Ainda não falei com ela. No entanto o gene da boa disposição e do sentido de humor é comum. De certeza qua vai haver gozo!

O que penso eu do assunto?

Vão brincar com o raio que os parta!

sexta-feira, fevereiro 11, 2005

Uma conversa

Já há uns dias que não acompanhava as obras que continuam em curso cá por casa. Esta tarefa de transformar uma ruina num espaço confortável parece não ter fim à vista.

Hoje arranjei um espaço na minha agenda para não fazer nada e actualizar as minhas conversas com o pessoal trabalhador.

As nossas conversas são sempre esquivas. Parece que desconfiam que esteja, por meios termos, a criticar o trabalho que realizam. Aliás, nem todos são muito conversadores. Os que mais apreciam as artes da troca de galhardetes são os mestres. Os ajudantes vão sorrindo e mantendo a distância. Já sabem que nestas situações, a haver criticas ao trabalho, acabam por levar com os restos da má disposição. Quando o mar bate na rocha….

Desta vez estava tudo conforme planeado. Por isso, a conversa andou por volta do carnaval e, sobretudo, pelo tema que mais arrebata a malta: o futebol.

- O Benfica vai ganhar o campeonato!
- Nem penses nisso, o Sporting está a jogar melhor, tá é com azar!
- E tu ó portista que dizes?
- Agora não sei. Respondeu o portista.
- Porquê, por causa do novo treinador?
- Claro! Foram meter um gajo sem currículo!

Deu-me vontade de rir a afirmação. Não por gozo, nem por discórdia. Apenas porque me fez lembrar algumas das minhas considerações sobre os cargos públicos.

- Mas isso é importante? Perguntei.
- Claro! Então se eu não soubesse fazer uma fossa o sr. contratava-me? Se o carpinteiro não fosse experiente o sr. contratava-o?
- Não! Respondi simplesmente.
- Então porque é que uma equipa como o Porto contrata um tipo sem currículo?
- Não é o caso. - Retorqui - O treinador tem experiência. Já treina há uns anos.
- Não é que ele não saiba ou não tenha experiência. Não tem é experiência suficiente para treinar uma grande equipa.

Fiquei calado por um bocado. Quer dizer que há uma espécie de hierarquia da experiência. Quanto maior a responsabilidade, mais completo deve ser o currículo.

- E se fosse para escolher um político? Era preciso currículo? Perguntei, meio no gozo.
- Não! Responderam quase todos em coro.
- Porquê?
- Porque esses não fazem nada! Quem não faz nada não precisa de ter experiência!

Não respondi mas fez-me pensar um pouco sobre a imagem dos políticos e sobre as baixas expectativas que eles despoletam nos seus eleitores.


Porque será?

Carlos Mota

Nasceu em 1963, em Ponta Delgada, Ilha S. Miguel, Açores. Em 1984 mudou-se para Lisboa. Frequentou Engenharia Civil no Instituto Superior Técnico. Em 1994 foi para Bruxelas, - Centre des Artes Decoratifs. Desde 1994, é aluno de Pintura de Toma Roata e de Desenho de Jaques Richard, na École des Arts D'Iselles.


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quinta-feira, fevereiro 10, 2005

Tudo na mesma!

Descanso é descanso, mesmo quando forçado.

No meu caso, tive direito a quatro dias de repouso compulsivo. Transtornou-me os projectos e atrasou-me os trabalhos. Paciência!

O pior é que não deu para acompanhar a malta nas carnavaladas deste ano. Perdi uma jantarada na Aldeia da Fonte, um assalto de carnaval, falhei o baile da filarmónica (este ano com novo formato) e tive falta na batalha da água dos "putos".

Foi uma desgraça de um carnaval.

Logo no único ano em que tinha preparada uma fantasia para desfilar em todos os circuitos elegantes da nossa terra. Tinha planeado começar no aeroporto, passar pela delegação da Assembleia, dar um giro na Câmara Municipal e, a partir de aí, entrar num circuíto errático, mas controlado, e acabar para os lados de São Mateus.

Sempre trajado a rigor. No meu fatinho de Super homem.

Não deu. Paciência!

Tinha ensaiado o gesto brusco de atirar a capa para as costas, esticar o braço direito com convicção, serrar o punho e, com o olhar no horizonte, arrepiar caminho até….até…

Perdi-me!

Uma vez fui ver uma prova oral -por falar em olhar o horizonte- para seleccionar um técnico superior para o Museu do Vinho. Não costumo ir a essas coisas mas, desta vez, tinha ouvido dizer que o Júri (maioritário do Pico) não se cansava de gabar a inteligência de uma candidata filha de um ex-deputado.

"Não tem currículo mas é brilhante!"

E lá fui. Peguei no gravador e "fui-me consolar". É que isto de ouvir gente inteligente é muito agradável.

A prova começou mediocre. As perguntas não obtinham as respostas combinadas. Um dos membros do Júri não devia estar bem ensaiado e fez asneira. Perguntou o que não devia. A rapariga engasgou-se, soluçou, voltou-se a engasgar e disse com a clareza possível: "Gosto muito da cultura, já bailei num rancho mas como não dá futuro….pensei no museu" (palavras minhas mas raciocínio da candidata).

As perguntas seguintes também não tiveram bem a resposta esperada porque as etapas para a organização de uma exposição não estavam bem interiorizadas. Mesmo assim, o presidente do Juri ia afirmando com a cabeça o que o cérebro negava. Penso que neste momento, na cabeça do Dr. Costa já só bailava a letra da canção "Por isso é que eu sou das Ilhas de Bruma". E concluía para si próprio "Tanta bruma no concurso que no final ninguém topa".

Fui assistindo incomodado. Afinal não fora para aquilo que me tinha deslocado até às Lajes do Pico. Mais uma ou duas perguntas e chegamos à fase final. Como uma opereta também a entrevista teve o seu ponto alto. O ponto onde o génio ou se revelava ou…nem por isso.

E veio a pergunta:

"Como deve ser um Técnico Superior?"

Resposta pronta:

"Um técnico Superior deve ter os olhos no horizonte!"

Nem por isso!

Sentar-se na cadeirinha que os favores políticos lhe concederam, acomodar as redondinhas nádegas, cruzar os bracinhos e olhar mais além, contemplando o horizonte!

E eu que pensava que os vigias da baleia é que tinham essa tarefa!

Em resumo: Não vi brihantismo. Vi apenas brilhar a política da cunha no seu mais elevado expoente. Naquele em que a vergonha já não tem lugar. As verdadeiras Ilhas de Bruma.

Soube hoje que o Partido Socialista encontrou na rapariga mais uma qualidade. Consciente do conhecimento profundo que ela tem dos picarotos e dos seus processos mentais de escolha, resolveu nomeá-la para integrar a "task force" que vai decidir sobre os nomes presidenciáveis para a Câmara. E o ramalhete fica mais composto: Hernâni, Serpa, Manuel Tomás e Laurisabel escolhem os candidatos. É verdade, já me esquecia, e acrescentaram o Eduardo Bettencourt.

Não mudou nada durante a minha ausência.

Carlota monjardino

Nasceu em 1970, em Angra do Heroísmo, Ilha Terceira, Açores. Bolsa de Estudo Erasmus, Faculdade de Bellas Artes de la Universidade Politécnica de Valência, Espanha (1995). Licenciatura em Pintura, Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa (1996).


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sexta-feira, fevereiro 04, 2005

Comentários

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Há dias assim!

Com os meus 39 graus de febre, não me sobra muita disposição para raciocínios muito elaborados.

Soube hoje que para além da gripe, que este ano está fortíssima, circula no éter uma outra ameaça sobre a forma de vírus.

O Centro de Saúde tornou-se a Meca de um grande número de Madalenenses.

Indo lá, assistimos a um ambiente de triagem em campo de batalha. A sala de espera mínima não confere qualquer dignidade a quem já se encontra suficientemente dependente da boa vontade dos outros.

Talvez por esse motivo, os doentes que aguardam a sua vez de serem atendidos, amontoam-se na pequena recepção. Sentem-se mais próximos do ar puro que entra, em boa quantidade, pela porta principal.

A falta de tinta em boa percentagem das madeiras, ou as diferentes tonalidades de verde que as enfeitam, ligam perfeitamente com o encardido das paredes.

Num cubículo está uma pessoa que vai tratando da burocracia. Entre uma escapadela parea fumar um cigarro e uns aumentos escusados de tom de voz, fiquei a saber que quem não leva os seus documentos não é atendido. O médico não aceita.

Fui-me embora.

Ficam dois aspectos importantíssimos.

1- É urgente um hospital para o Pico
2- É fundamental avaliar os nossos funcionários públicos.

António Eduardo Soares de Sousa

Nasceu em 1932, na cidade de Ponta Delgada, Ilha de São Miguel, Açores. Arquitecto pela Escola de Belas Artes de Lisboa, dedica-se a Arquitectura como actividade principal.


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Mistura Fina

A febre, a tosse e a dor de cabeça impedem-me de dar à escrita a atenção que ela merece.

No entanto, há ideias que me vão atravessando o cérebro e que me dão vontade de parar um pouco para as descodificar. Hoje, o que me tem ocupado um pouco do meu tempo é a ideia segundo a qual alguma da filiação partidária, nesta nossa secção, pelo menos, pouco tem a ver com questões ideológicas e éticas. Algumas pessoas, têm objectivos bem mais prosaicos.

Penso que o que verdadeiramente motiva alguns "partidários" desta ou daquela filiação política são razões de ordem mais pessoal.

É uma afirmação um pouco perigosa, sobretudo se generalizada. Por isso, vamos encará-la com o cuidado que merece: Sem generalizar!

Em primeiro lugar, como premissa de partida, é aceitável pensar que as razões ideológicas implicam uma visão da vida, da sociedade, do futuro e da intervenção cultural específicas.

Em segundo lugar, também é fácilmente compreensível que partidos diferentes tenham visões diferentes daquelas variáveis. Os de direita, ou centro direita, têm uma visão concreta da vida. Têm um conjunto de valores morais próprios. Por seu lado, ser de esquerda, implica abraçar um conjunto de ideais e uma ética própria. Factores que, em ambos os casos, devem reger os nossos actos.

Por definição, estas duas formas de encarar o mundo e a organização social são, incompatíveis. Não posso ser de esquerda às quintas e terças e de direita às segundas e quartas, deixando os restantes dias para variar entre o niilismo e o situacionismo. Ou se é ou não se é.

É simples.

Mais verdadeira é esta afirmação quando os indivíduos se inscrevem em partidos.

Resta-nos responder à questão de partida.Serão todos os filiados nos partidos verdadeiramente militantes, do ponto de vista ideológico?

Não me parece.

O exercício que proponho é simples. Vejamos as associações e Instituições que existem e façamos uma análise das suas direcções.

Pensem, por exemplo, na Rádio Pico, no Circulo de Amigos da Ilha do Pico, no Futebol Clube da Madalena, na Câmara Municipal, no Ilha Maior, na ADLIP, na Escola Profissional, na Santa Casa da Misericórdia e na Cardeal.

Veja-se agora o nome das pessoas e as associações de projectos que eles presseguem.

A conclusão é simples: Ou não há ideologia e trata-se, apenas, de uma mistura fina ou, então, alguém anda a enganar alguém sobre as suas opções políticas.

E não sejamos ingénuos ao ponto de pensar que gerir uma rádio, um jornal, uma escola profissional e uma Santa Casa (por exemplo), não implicam a mobilização de um conjunto de ideais e de valores específicos. Isso seria o mesmo que dizer que ninguém sabe o que anda a fazer.

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quarta-feira, fevereiro 02, 2005

Culpa e responsabilidade

Quando dou formação, sobretudo na área comportamental, e quero apurar o nível de preconceitos e maturidade dos meus jovens alunos, regra geral licenciados e mestres, em diversas áreas, costumo incentivar a argumentação, em grupo, sobre um tema que seja mais ou menos polémico, desencadeador da discussão e que permita várias soluções alternativas.

Por vezes a maturidade encontra-se na capacidade de julgamento. Outras vezes, simplesmente, na recusa de o fazer.

O tema deste texto, insere-se num contexto mais vasto e que tem como objectivo possível, tentar perceber de quem é a responsabilidade pela actual situação do Partido Socialista, na Madalena. Desta forma será mais fácil, penso eu, encontrar um rumo.

Refiro-me à sua orgânica, à sua dinâmica e, sobretudo à sua dificuldade de lidar com os velhos fenómenos, de uma forma moderna e eficaz.

Para tal, em primeiro lugar, convém separar conceitos que, quase sempre, são confundidos e levam a afirmações precipitadas. Por um lado, o conceito de culpa e, por outro, a noção de responsabilidade.

A culpa é objectiva. É nesse conceito que assenta o aparelho jurídico. Basta verificar as obrigações de cada um e os respectivos incumprimentos.

Num partido político existem estatutos e hierarquias. Se estes últimos não cumprem as regras do jogo (estatutos) a procura dos culpados pela situação pode parar por aqui. Se os guardiões das regras as ignoram, os restantes estão isentos de culpas no eventual mau funcionamento da estrutura. Na cadeia alimentar do processo de decisão política os últimos da cadeia, os militantes de base, nunca podem ser culpados por qualquer situação disfuncional.

Por outro lado, a responsabilidade é mais subjectiva. Não tem a ver com um mero estudo de factos concretos. Tem a ver, sobretudo, com o grau de empenhamento honesto de cada um e, sobretudo, com os seus valores éticos e morais. Seria fácil de concluir que, no fundo, todos somos responsáveis. Em certa medida até é verdade. No entanto, para se ser responsável por algo, é necessário que haja uma relação directa entre o indivíduo e o colectivo. Sem relação não pode haver responsabilidade.

No caso político, parece-me claro que o nível de responsabilidade vai mais ou menos a par com o grau de culpa. Os culpados da situação são, regra geral, os mais responsáveis.

O contrário já não é verdade. A ausência de culpa não implica uma responsabilidade nula.

Na situação de um partido, sobretudo se este for minimamente democrático, acabam por ser todos responsáveis:

Uns directamente, devido à sua posição hierárquica, capacidade de decisão e influência real sobre o rumo do colectivo.

Outros, indirectamente, porque abdicam da sua capacidade crítica e permitem, de forma, mais ou menos imatura, que os primeiros tomem nas mãos as rédeas da "carruagem". A ausência de espírito crítico e a recusa de discutir os temas que a todos nos dizem respeito, mesmo em nome de uma falsa estabilidade, são atitudes que aumentam o grau de responsabilidade individual relativamente à incapacidade de renovação de um partido.

Criticar e exigir o cumprimento das regras democráticas é uma atitude, não só desejável mas, sobretudo, responsável.

Logo; o contrário (o silêncio) é irresponsabilidade.

Ana Maria

Uma filosofa Lisboeta que se dedicou à pintura.


ana maria 2

terça-feira, fevereiro 01, 2005

No refluxo da maré

Ainda em fase de construção, o novo quartel dos Bombeiros, era considerado, por muitos, como uma obra "faraónica" e desnecessária.

Este fim de semana tive a oportunidade de me deslocar àquela corporação e, após ter sido muito bem recebido pelos "soldados da paz" que estavam de serviço, pude apreciar, com cuidado e alguma minúcia a obra feita.

Gostei!

O primeiro piso tem um conjunto de estruturas que vão desde as necessária camaratas, quartos de banho com acesso para deficientes, sala de convívio, sala de refeições, bar, auditório, sala de consultas médicas, etc. etc..

O segundo piso completa as necessárias infraestruturas e tem um número mais do que suficiente de gabinetes e escritórios.

O único aspecto que me pareceu menos bem projectado diz respeito à dimensão do parque coberto de viaturas. É pequeno para a quantidade de veículos que aí estão estacionados.

Fiquei a saber, no entanto, que está projectada uma segunda fase da obra. Uma fase que prevê, entre outros, o aumento do espaço de estacionamento e a construção de uma piscina coberta.

Estas estruturas, no seu conjunto, são importantissímas para o futuro da Madalena e da Ilha. A sua construção revelou uma visão de futuro.

Os que ainda não são sócios dos bombeiros que se inscrevam agora para, no futuro, poderem beneficiar daquelas instalações.

O novo quartel dos Bombeiros é uma prova de que pode haver programação projectada no futuro e não, apenas, numa visão estreita da realidade presente. É mais caro no imediato mas muito mais eficaz no futuro.

Assim, talvez venhamos a ter cidade!

Cruzeiro Seixas

Cruzeiro Seixas

Um surrealista Português consagradíssimo.
Pinta mundos abstratos recheados de seres imaginários e ameaças oníricas.


cruzeiro seixas