sexta-feira, janeiro 14, 2005

Equivoco 3

Tem-se discutido sobre o conceito de cidade. A ideia da Madalena poder vir a ser, a prazo, classificada como centro Urbano tem permitido os mais variados comentários. Dos mais favoráveis à mais refinada ironia. Que pensar do assunto? Que posição tomar?

Sinto-me confortável. No fundo não é nada de novo. Já durante a vida académica, há muito anos, enquanto trabalhava para alcançar o grau de sociólogo especializado em urbanismo, tinha tido a mesma discussão: o que define uma cidade? Serão as relações sociais? A dimensão? A Economia? Ou, por outro lado, a componente administrativa?

Durante a frequència do mestrado em urbanismo, no Instituto Superior Técnico, a discussão continuou. Os argumentos e as variáveis eram sempre os mesmos.

A evolução do conhecimento permitiu-me retirar uma conclusão. A verdadeira discussão não é técnica nem prática. O cerne da questão é meramente político. Uma cidade é como o natal, acontece quando um homem quiser. Ou melhor; cidades há muitas…

Durante o meu trabalho como consultor do Gabinete de Urbanismo da Câmara Municipal de Oeiras ou a experiência única de poder manipular uma cidade, transformando-a de Mononuclear em Polinuclear, conforme tive oportunidade de fazer na cidade de Curitiba (cidade modelo do Brasil), confirmaram a minha opinião. A ideia de cidade é, sobretudo, uma ambição política. Melhor ainda, uma ideia apoiada pelos académicos (há teorias para todos os gostos).

Senão vejamos: basta consultar um texto de Manuel Castells* (professor da escola de altos estudos de Paris, Investigador do CNRS da Sorbonne, professor da faculdade de letras de Nanterre, da faculdade latino-americana de ciências sociais da UNESCO, da Universidade de Montreal e do Centro Interdisciplinar do Desenvolvimento Urbano - Chile) para concluirmos que a cidade não é mais do que um conceito social.

Resumindo: Lisboa é tanto cidade comparada com Caracas, como Angra é cidade comparada com Nova York, como a Horta é cidade comparada com Berlim, como a Madalena é cidade comparada com Tóquio. Há cidades com 10 mil habitantes, com 100 mil habitantes, com 1 milhão de habitantes e com 10 milhões de habitantes (com os zeros à frente é mais visível a diferença).

O imaginário individual faz a diferença. Quando pensamos numa cidade não pensamos numa cidade. Pensamos, isso sim, numa megalópole.

Assim sendo, o que é uma cidade?

Simples, creio eu!

Uma cidade surge quando as relações sociais se alteram e, do controlo social rural, surge uma ténue interacção baseada no anonimato e a ascenção social se torna uma possibilidade. Filhos de agricultores passam a mecânicos, burocratas ou doutores. Reis do betão passam a condes da literatura e a alma artística passa a ser um defeito aceitável.

Em paralelo, o sistema de produção desloca-se do primário para o secundário ou, mesmo, para o terciário.

Já agora, se a pressão imobiliária implicar um aumento dos preços do terreno, temos o quadro completo.

Só para arrefecer aqueles que continuam a pensar que o tamanho é importante refiro que, nos anos 60, os Estados Unidos consideravam aglomerado Urbano as concentrações com 2.500 habitantes, enquanto que a Europa tinha como padrão os 10.000.

Se a atomização do território, do ponto de vista administrativo, é positivo ou não, é uma discussão política que tem como motivo final a questão da regionalização. Por mim, a questão do peso no orçamento do estado é secundário. Penso mais no bem estar da população.

No fundo o que quero é um hospital!



* Manuel Castells, La question Urbaine - editado pela Maspero