sexta-feira, janeiro 07, 2005

O Poder…

Faz sentido, a seguir a uma reflexão, ainda que superficial, sobre a mudança, tentarmos enquadrar o fenómeno em função das variáveis que a determinam e condicionam. Acredito, como ponto de partida, que a mudança é uma certeza; uma característica pessoal e social inerente e indissociável da humanidade. A questão que coloco tem a ver, portanto, com a possibilidade de prever, antecipar e agir sobre essa mesma mudança.

Em síntese e, de uma forma mais prática, o que podemos nós fazer para controlar a mudança e adaptá-la aquilo que é, para nós, mais pertinente e fundamental?

É adquirido que para induzir mudança é necessário ser detentor de poder. Não me refiro a autoridade. O número de pessoas com autoridade para "decretar" a mudança é diminuto e, muitas vezes, incapaz de projectar um futuro. Sendo assim, o poder de mudar não advem, directamente, dos cargos nem da representatividade, objectiva ou subjectiva, que cada indivíduo possui. Aliás, "verbos de encher" conhecemos muitos.

Entre a ausência de poder e o poder absoluto existe uma quantidade imensa de possibilidades. Se a estas associarmos as diferentes hipóteses de mudança, ficamos com um número de probabilidades de futuro quase do tamanho das combinações do euromilhões.

Como reduzir as probabilidades na gestão da evolução e como aumentar o nosso (de todos) poder de manipular os acontecimentos futuros?

Em primeiro lugar, temos de perceber que quem detem o poder legítimo de decidir são os políticos eleitos. Esta premissa inicial é o nosso grande trunfo. Não há político eleito que não queira ser reconhecido e ser reeleito.

Em segundo lugar, sabemos que os políticos, ao decidir em função da sua vontade de continuar em funções, estão reféns do nosso voto. Podemos concluir, portanto que, em ultima análise, eles farão o que nós quizermos.

Se é assim tão fácil, porque é que não acontece dessa forma?

Porque a divisão de opiniões é tão grande e os indivíduos estão tão preocupados em "ter razão", de forma a serem reconhecidos pelos outros que, quando a mensagem chega aos ouvidos dos decisores (se é que chega) é tão fraca, difusa e contraditória que não tem qualquer valor. Assim nascem alguns "representantes legítimos" do povo. Aqueles que pegam em tudo o que ouvem, associam o que querem para si e somam o que acham que o "chefe" quer ouvir e apresentam (normalmente têm canais directos porque já pertenceram ao "clube") a sua verdade como sendo a aspiração do povo.

A culpa deste fenómeno é de todos nós!

É claro que há interesses particulares fortes, há partidos diferentes e personalidades incompatíveis. É claro que há divergências inconciliáveis.

No entanto, também é verdade que existem interesses comuns, mudanças que beneficiam a todos e melhorias que podem influênciar positivamente o bem estar colectivo. É neste ponto que pode haver um esforço concertado. Pelo menos nas grandes obras e nas grandes aspirações.

Se é verdade que, em última análise, os políticos só fazem o que nós quizermos, o verdadeiro poder é o de transformar um tema local numa prioridade política. O verdadeiro poder está em controlar a agenda dos políticos. A pressão colectiva pode impôr ou remover temas da agenda e, desta forma, controlar a mudança.

Podemos concluir que o futuro (a sua direcção), pelo menos a curto e médio prazo, está nas nossas mãos, enquanto indivíduos e enquanto colectivo, desde que o queiramos.

Há muitas pessoas nesta terra que têm consciência empírica deste facto e aplicam toda a sua capacidade para manipular o curso dos acontecimentos. Referimo-nos, por exemplo, e recorrendo a fenómenos recentes, a lançar uma dúvida sobre a conclusão do aeroporto na mesa de um café ou num jornal local para termos, a seguir, um grande número de pessoas a fazerem desse tema o centro da sua atenção. Qual é a vantagem? Enquanto discutem o inevitável não se lembram do necessário. Lembram-se, concerteza da velha máxima: "dividir para reinar"". É isso!!

Outro exemplo é o de, sem qualquer fundamento objectivo ou respeito democrático, lançar para a praça pública um conjunto de nomes de possíveis presidentes da câmara (esquecendo propositadamente outros com um perfil mais adequado) e, de forma subtíl, fazer sobressair um deles para, posteriormente, o apresentar como uma escolha legítiuma. É desta forma que tem surgido o nome de José António Soares como possível candidato à câmara, com o apoio do PS. É uma manipulação e um equívoco que só interessa a dois grupos; ao PSD e aqueles que, mais do que fazer ganhar um ideal e uma forma de ver o mundo, querem manter a sua posição de intermediário "bem colocado". De resto, a hipótese é tão ridicula e grotesca e o "candidato a candidato" tão improvável que me abstenho de comentar.

Se não perdermos tempo em brincadeiras, logros e jogos de bastidores podemos construir uma "agenda política" que será, no mínimo, muito interessante.

Depois de o conseguirmos, podemos voltar à nossa rotina e divertirmo-nos a chatear uns aos outros.

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